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NO PASSADO, A PALM FOI sinônimo de alta tecnologia em eletrônicos portáteis. Mas resolveu seguir ao pé da letra a máxima futebolística de que em time que está vencendo não se mexe. Aposta errada: a companhia perdeu a sintonia com seu mercado e quase comprometeu sua própria sobrevivência. Confortável na posição de líder absoluta no segmento de computadores de mão (PDAs), a empresa ignorou a ascensão dos smartphones, que incorporam funções de PDAs em celulares. As grandes corporações gostaram da integração oferecida pelos smartphones e deram preferência a eles em relação aos produtos da Palm. O baque na empresa foi enorme. Seu faturamento caiu de US$ 349,6 milhões entre setembro e novembro de 2007 para US$ 191,6 milhões no mesmo período do ano passado. Para piorar, nesse mesmo intervalo, seu prejuízo líquido saltou de US$ 8,8 milhões para US$ 506,1 milhões (embora nessa conta entre um provisionamento fiscal não-recorrente de US$ 390 milhões). Agora, a empresa tenta se recuperar com uma profunda mudança estratégica: em vez de correr atrás dos usuários corporativos, como mandava sua tradição, voltou o foco para os consumidores finais. Em jogo está o mercado de smartphones, que, no Brasil, segundo a própria Palm, tem 15,1 milhões de usuários – 10% da base instalada de celulares.

Na prática, a transformação começou em 2007, quando o fundo de investimento Elevation Partners adquiriu 25% do capital da companhia. A primeira atitude foi cancelar os lançamentos previstos para os meses seguintes – exceto um, justamente aquele voltado para o usuário final. Tratava-se do Palm Centro. Esse é o produto no qual a empresa aposta suas fichas no Brasil. Mais simples do que os demais smartphones do mercado, o Centro oferece, em contrapartida, um preço mais acessível do que o de seus concorrentes: R$ 199. Para chegar a esse valor, a Palm promoveu um trabalho de convencimento junto às operadoras. No Brasil, os resultados começam a aparecer. A participação da Palm no mercado de smartphones saiu de 3% a 4% no início de 2008 para 5% a 6%. Para este ano, a meta é dobrar esse número. No mundo, cerca de três milhões de unidades do Centro foram vendidas desde seu lançamento.

“Se a Palm tivesse acompanhado a evolução da tecnologia, talvez hoje não precisássemos apostar em smartphones para o consumidor final”, admite Marcelo Zenga, diretor de marketing da Palm no Brasil. A migração para esse tipo de cliente exigiu uma radical renovação na equipe da companhia em todo mundo, com a contratação de profissionais mais sintonizados com as tendências de consumo. O próprio Zenga é um desses recém-chegados. No Brasil, o “novato” terá R$ 15 milhões para promover os smartphones.

O executivo não acredita que haverá resistência à marca entre as pessoas físicas. Segundo ele, os consumidores jovens, principal foco da empresa, não acompanharam de perto a derrocada da Palm. Por isso, para eles, seria como adquirir produtos de uma marca totalmente nova. Já na frente corporativa, a Palm aposta firmemente em seu novo produto, o Palm Pre. Segundo Zenga, duas das características do aparelho o tornam mais competitivo. Uma delas é a eliminação de tecnologias que geralmente são subutilizadas por usuários corporativos, mas que encarecem o produto. Além disso, o smartphone foi desenvolvido para ser capaz de “conversar” com sistemas da Microsoft, amplamente utilizados pelas corporações. A verdade, porém, é que no mercado corporativo a briga será mais feia do que no de consumo. “No segmento corporativo, tenho que tirar (participação) de alguém para poder crescer. Já no de consumidores, há mais espaço para expansão”, diz. “É um bom lugar para recomeçar.”