Houve uma época em que beleza era uma referência exclusivamente feminina. Salões decorados com cores e objetos delicados e revistas voltadas para a mulher, embalagens com design feminino e butiques repletas de mulheres vaidosas eram predominantes – e assustavam os homens que se interessavam pelo assunto, mas temiam ter a masculinidade questionada ou ficavam constrangidos ao serem rotulados de metrossexuais. Hoje, graças à percepção de investidores que enxergaram neles um nicho de mercado, o público masculino tem um lugar ao sol na indústria da beleza.

Tanto é que as barbearias viraram febre, e as marcas de beleza apostam na criação de linhas especiais para homens. O otimismo em relação a esse público não é à toa. Segundo a Abihpec, associação que reúne os fabricantes do setor de beleza, o mercado nacional de produtos masculinos dobrou de tamanho, nos últimos cinco anos, saindo de US$ 2,28 bilhões, em 2008, para US$ 4,57 bilhões em 2013. Para Daniela Dantas, diretora da Mindset, braço brasileiro da consultoria de tendências e consumo Wgsn, isso se deve ao fato de o homem desenvolver um papel misto na sociedade atualmente. “Antes eles eram vistos como provedores e as mulheres como mães e donas de casa”, afirma.

“Os valores mudaram e a vaidade masculina passou a ser muito mais aceitável.” Bom para quem tem tino para os negócios, como o ex-economista Guilherme Campos, que largou o emprego no banco de investimentos Itaú BBA para abrir juntamente com o dois amigos uma marca de produtos de beleza voltada para o público masculino, a Dr. Jones. Lançada no final de 2012, a grife já está presente em 200 pontos de venda pelo País, inclusive na Sephora. “A ideia surgiu observando o mercado, principalmente o europeu e o americano, onde a oferta de produtos para o homem é muito maior que a do Brasil”, diz Campos. “Também nos enxergamos bastante: somos esse novo homem que não é um homem das cavernas nem um metrossexual.”

Para agradar a esse novo homem, muito mais atento com os cuidados pessoais, é necessário usar uma comunicação direta e abusar de elementos estéticos masculinos. A Dr. Jones, por exemplo, estampa em todos os seus produtos indicações que facilitam o entendimento do cliente. “Homem é mais prático, quer bater os olhos no produto e já saber para que serve aquele produto”, diz Campos. “Outra diferença das mulheres é que os homens não compram tantos produtos quanto elas, por isso as linhas acabam sendo mais enxutas.” Já as barbearias, como a Corleone, no bairro paulistano do Itaim Bibi, abusam de referências “pra macho”. Lá, além da decoração mais sóbria, repleta de couro e tons escuros, são oferecidos mais de 450 rótulos de cervejas artesanais.

Mas nem tudo é apenas uma questão de comportamento de consumo de gênero. A diretora de marketing da Clinique, no Brasil, Bruna Santos, explica a importância de existir linhas especiais para o público masculino. “O homem tem uma pele mais espessa, sensível (por causa da barba) e mais oleosa”, diz a executiva. O carro-chefe da linha Clinique for Men, segundo ela, são os produtos de barbear. “Ainda assim, representam apenas 3% dos nossos negócios”, afirma Bruna, convencida de que o consumo por parte dos homens vai aumentar. A preocupação com a queda de cabelo continua a ser uma das mais recorrentes nos consultórios de dermatologia ou farmacologia.

“Tenho um cliente de 18 anos que já faz tratamento de prevenção da calvície hereditária”, diz a farmacêutica bioquímica Marcela Buchain, proprietária do Studio Tez Spa do Cabelo, salão especializado em diagnósticos personalizados no bairro de Moema, na capital paulista. O dermatologista Newton Morais, da clínica Mais Excelência Médica, na Vila Nova Conceição, conta que esse problema também aflige muitos de seus pacientes do sexo masculino. Tratamentos faciais também são recorrentes, conta o médico. “Os homens se preocupam muito em parecer saudável e jovem, principalmente por uma demanda do mercado”, diz Morais. “Eles acreditam que, se uma pessoa parece não cuidar nem de si própria, não está apta para cuidar de uma empresa.”