Quando comparada com seus pares, a Petrobras é uma pechincha na bolsa. Em setembro passado, data do último balanço trimestral, seu patrimônio líquido era de R$ 343,1 bilhões. No entanto, atualmente é possível comprá-la com 49,3% de desconto. Na quarta-feira 5, ela valia apenas R$ 173,9 bilhões, na Bovespa. As quedas praticamente ininterruptas das ações ao longo dos últimos dois anos tornaram-na a petrolífera mais barata das Américas. Na quinta-feira 5, as ações fecharam a R$ 13,83, menor nível desde 2005 em termos reais. É uma cifra distante do mínimo histórico de R$ 0,20 em março de 1990, mas está longe do pico de R$ 58,64 de maio de 2008, auge da euforia com o pré-sal. Fica a pergunta: é hora de comprar?

 

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Plataforma de petróleo: otimismo dos analistas com a entrada de quatro novas unidades

em operação em 2014, o que deverá elevar a produção em 7% neste ano

 

Segundos os especialistas, a baixa das cotações justifica-se principalmente pela política de preços do combustível adotada pela empresa a partir de junho de 2012. Em 2010, a estatal levantou R$ 120 bilhões, na maior venda de ações em todos os tempos. A expectativa era de que o dinheiro fosse usado para aumentar a produção, lembra o analista André Trein, da Fundamenta Investimentos. “No entanto, o que se viu foi o uso desses recursos para um subsídio aos combustíveis, o que fez a Petrobras perder dinheiro com o refino de gasolina e diesel”, diz ele. Com isso, a relação entre a dívida bruta e a perspectiva de geração de caixa (medida pelo Ebitda) avançou de 2,5 vezes em 2010 para 4,2 vezes em setembro de 2013. 

 

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Disciplina operacional: Graça Foster, presidente da Petrobras:

eficiência nas operações anima os analistas 

 

Quem não gostou dos números vendeu as ações e elas despencaram na bolsa. Hoje, a questão de um bilhão de dólares é se os papéis chegaram ao fundo do poço. DINHEIRO consultou 18 analistas de bancos brasileiros e internacionais. Para 17 deles, o papel é uma oportunidade de investimento, mas de longo prazo. Felipe Mattar, da Goldman Sachs, recomenda comprar as ações, inclusive pelo fato de estarem baratas. Em um relatório de 31 de janeiro, sua equipe destaca a disciplina operacional e de capital da Petrobras. À espera da divulgação dos resultados, adiada do dia 14 para 25 de fevereiro, a maioria das casas consultadas recomenda manter a ação. 

 

Isso, porém, esconde uma sutileza formal: os relatórios têm validade de 12 meses e, nas conversas, a maioria absoluta dos entrevistados afirma que, em períodos mais longos, a ação deverá trazer alegrias ao investidor – ou seja, para quem não tem pressa nem aversão ao risco, é hora de comprar. Andrew Muench, analista do banco Brasil Plural, diz que a cotação atual – R$ 12,96 das ações ordinárias e R$ 13,83 das preferenciais, na quarta-feira, 5 – pode ser um bom ponto de entrada para os acionistas que pretendem ficar mais de 12 meses com o papel na carteira. “Pelos fundamentos, provavelmente, ela deveria ser negociada a US$ 20, cerca de R$ 48”, afirma. Outro a recomendar a compra é o BB Investimentos, que projeta um preço-alvo de R$ 23,50 para as ações ordinárias e de R$ 25 para as ações preferenciais, valorizações potenciais de, respectivamente, 81,3% e 80,5%. 

 

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Além dos preços baixos, os profissionais destacam os bons prognósticos operacionais para a empresa liderada por Graça Foster. O alemão Deutsche Bank e o brasileiro Itaú BBA esperaram um aumento de 7% na produção de petróleo da companhia em 2014. O 1,93 milhão de barris por dia subiriam para 2,07 milhões, devido à entrada em operação de quatro novas plataformas nos campos de Roncador, Parque das Baleias e Papa Terra, na Bacia de Campos. “A divulgação de um aumento na produção pode ser um gatilho de alta para o papel”, diz Marcus Sequeira, do Deutsche, que recomenda a compra das ações. Paula Kovarsky, analista do Itaú BBA, lembra, porém, que os papéis vão continuar pressionados caso alguma linha do balanço venha abaixo das expectativas. 

 

É preciso, no entanto, lembrar que ação é investimento de risco e nada garante que o papel não vai cair ainda mais. Os humores do mercado em relação à Petrobras são alterados devido às turbulências políticas, movimento que tende a se amplificar com a aproximação das eleições de outubro. Segundo o analista independente Clodoir Vieira, um eventual avanço da oposição nas pesquisas de opinião poderia representar um ganho de curto prazo para os investidores com mais apetite pelo risco. No entanto, ele é um dos muitos a recomendar a compra das ações. “Os preços estão muito baixos, o investidor com perfil para o longo prazo e mais apetite pelo risco deve pensar nessas ações como uma oportunidade de ganho”, diz ele.

 

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