Em seu primeiro pronunciamento como principal executiva do espanhol Santander, na segunda-feira 15, Ana Patricia Botín reafirmou sua intenção de prosseguir com o legado expansionista do pai, don Emílio Botín, falecido em 10 de setembro. Ana Patricia anunciou a aquisição de uma rede de financiamentos automotivos no Canadá e a aprovação, pelo Conselho, de um aumento de 5,62% no capital do banco na Espanha. Serão emitidos 655 milhões de ações para serem oferecidas em troca de todos os papéis do Santander Brasil.

“Essa permuta sublinha nossa confiança na capacidade do banco no Brasil de melhorar o desempenho do grupo”, disse ela. A meta é trocar as ações em circulação por Brazilian Depositary Receipts (BDR), certificados de ações de empresas internacionais negociados na bolsa brasileira. Dos 7,6 bilhões de ações emitidas, 24,7% ou 1,87 bilhão estão em circulação no mercado. Pelos termos propostos pelo banco espanhol, cada ação será trocada por 0,35 BDR. As units do Santander, títulos compostos por uma ação ordinária e uma preferencial, serão trocadas por 0,70 BDR.

Na quinta-feira 18, as ações do banco na Espanha fecharam cotadas a € 7,77, ou R$ 23,55. Vale a pena? O prazo para a troca vai até o dia 30 de outubro e é preciso fazer contas. Na quinta-feira 18, as units fecharam a R$ 16,35. Considerando-se uma taxa de câmbio de R$ 3,055 por euro, 0,70 ação do banco espanhol valeria R$ 16,62, o que representaria um ganho de 1,63% na troca. No entanto, o investidor tem de considerar alguns pontos antes de tomar sua decisão. O primeiro deles é definir se é interessante trocar uma empresa pela outra.

Dirigido por Jesús Zabalza, o Santander Brasil é um banco de grande porte, mas cuja rentabilidade tem ficado abaixo da dos seus concorrentes privados. Na apresentação da segunda-feira, uma das telas do auditório da sede do banco em Santander, na Cantábria, exibia a frase “confiança no Brasil” em letras garrafais. Essa atitude, porém, não é compartilhada pelos analistas. Eles estão cada vez mais reticentes em tecer comentários, dada a proximidade das eleições presidenciais. No entanto, um relatório de Tito Labarta, do Deutsche Bank, datado de 28 de agosto, aponta alguns dos desafios do Santander.

Em comparação com os demais bancos que atuam no Brasil, os espanhóis vêm enfrentando uma persistente queda das margens de lucro, a piora da qualidade de crédito e o relativo atraso em acompanhar os movimentos estratégicos da concorrência, como a aposta nos empréstimos consignados. Apenas em agosto, o Santander adquiriu o Bonsucesso, especializado nesses créditos, ao passo que Itaú e Bradesco haviam feito movimentos nesse sentido antes do início da década. Além disso, o banco tem adotado uma atitude cautelosa por aqui, emprestando menos do que a concorrência e mantendo dinheiro em caixa.

Prova das reticências do mercado é que, apesar da alta recente devido a um dividendo extraordinário pago em agosto do ano passado e às notícias da troca, as ações do banco ainda registram queda real (descontando-se a inflação medida pelo IPCA) de 14,7% desde a abertura de capital, em 2009, segundo a Economática. Nesse período, as ações de Bradesco e Itaú Unibanco se valorizaram, respectivamente, 11,7% e 29,3% em termos reais. O cenário para o grupo Santander na Espanha é diferente.

Lá fora, ele é um banco gigantesco, com operações em 14 países e com muita capacidade de diversificar e expandir seus negócios. Nos últimos 12 meses, a alta acumulada dos papéis na bolsa de Madri foi de 28%. No entanto, o investidor que optar por trocar suas ações pelos BDRs vai passar a correr dois riscos adicionais. O primeiro é cambial. Um retorno exuberante na Espanha pode ser eclipsado no caso de uma apreciação do real em relação ao euro. O segundo é regulamentar: ao comprar BDRs, o acionista se submete à legislação espanhola, com a qual está menos familiarizado.