27/04/2021 - 14:58
Por Marta Nogueira e Gram Slattery
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A mineradora Vale avalia a opção de realizar um “spin off” (cisão) da unidade de metais básicos e uma eventual oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), como forma de agregar valor ao negócio, cuja demanda tem sido alavancada pelo mercado de transição energética.
A companhia já é uma das maiores produtoras globais de metais básicos, como níquel e cobre, importantes matérias-primas para a fabricação de baterias e outros componentes que atendem às indústrias de energias renováveis e carros elétricos.
O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, afirmou que a companhia sempre olha as opções que estão ao seu alcance e que atualmente a empresa já trabalha em um rearranjo de ativos, melhoria da produtividade e reposição de capacidade, tendo concluído recentemente a venda do deficitário VNC.
“Existe uma discrepância, que já existia no passado, de não percepção de valor de metais básicos dentro da Vale… claro que a gente olha essa opção (de realizar um ‘spin off’). A gente começou a analisar”, afirmou o executivo, ao participar de teleconferência com analistas de mercado sobre o primeiro trimestre.
“Temos que trabalhar nas fundações do negócio e estarmos prontos para as opcionalidades”, afirmou.
“As fundações… são projetos de reposição de capacidade…, que é importantíssimo para o negócio, inclusive se for fazer um IPO; os trabalhos de produtividade, que são obviamente necessários… e claramente a VNC, que a gente considera muito sucesso a saída de um ativo que obviamente não adicionava no portfólio.”
O executivo também destacou que a empresa se “vê de fato como uma das poucas empresas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), ‘green’, com portfólio muito forte de produtos de todos os níveis, de todas as dimensões ligados ao carro elétrico”.
Os estudos vêm após a empresa ter concluído compromissos importantes para reparações e indenizações relacionadas ao rompimento de barragens em Minas Gerais nos últimos anos, com grande número de mortes e de danos ao meio ambiente.
A empresa chegou a avaliar em 2014 a realização de uma cisão da unidade de metais básicos para realizar um IPO, mas o tema perdeu força após o rompimento de barragem da Samarco –joint venture da Vale com a anglo-australiana BHP–, em novembro de 2015.
O vice-presidente-executivo de Metais Básicos, Mark Travers, ressaltou que a empresa tem hoje melhor “fundação” e “narrativa” para a realização da cisão do que tinha em 2014.
VENDAS DE ATIVOS DE CARVÃO
Em meio aos avanços com compromissos ESG, a Vale busca a venda de sua mina de carvão Moatize, em Moçambique. Segundo executivos da mineradora, foram assinados mais de 20 acordos de confidencialidade, e o desinvestimento do empreendimento poderá ser realizado ainda neste ano.
“Há sim muitos interessados… ainda é muito preliminar ver se esse interesse vai se traduzir em real intenção. Mas estamos positivos de que teremos novidades ao longo do segundo semestre, nesse processo de desinvestimento”, disse o vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores, Luciano Siani.
Ele destacou ainda que a empresa tem grande expectativa para aumento da produção na mina de Moatize e acredita ser “perfeitamente possível” que o negócio gere caixa positivo já no início de 2022, desde que haja uma recuperação dos preços do carvão.
O objetivo é atingir produção de 15 milhões de toneladas em Moatize no início do segundo semestre. No início de 2022, a produção poderá atingir 18 milhões de toneladas, com a chegada de novos equipamentos já encomendados, segundo Siani.
Mais cedo, executivos da mineradora afirmaram estarem confiantes de que a companhia atingirá a meta de produção de minério de ferro –sua principal commodity– para este ano, no intervalo entre 315 milhões e 335 milhões de toneladas, diante dos resultados já alcançados e de perspectivas para o ano.
Também previram que haverá suporte para o prêmio de minério de ferro ao longo do ano, com demanda chinesa firme. Diante de resultados positivos, a empresa estuda formas de ampliar a remuneração aos acionistas, por meio de dividendos adicionais e ampliação de recompra de ações.
(Por Marta Nogueira e Gram Slattery no Rio de Janeiro; com reportagem adicional de Roberto Samora em São Paulo)