A Vale está em negociações com a empreiteira Andrade Gutierrez para a realização de obras em suas oito barragens em Minas Gerais, apurou o jornal O Estado de S. Paulo. Na semana passada, a mineradora acertou com a construtora fazer contrato de administração por obra. O acordo entre as duas companhias ainda depende de aprovação do conselho de administração da Vale.

Pelas conversas entre as duas empresas, a Andrade Gutierrez vai começar nos próximos dias uma análise para colocar em curso seu plano para reconstruir as barragens da mineradora. Ainda não há um valor fechado para a reconstrução dessas barragens. Nas últimas semanas, a mineradora tem mantido conversas com empresas especializadas para avaliar suas barragens.

Tragédia

O rompimento de uma barragem da mina da Vale – Córrego do Feijão -, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro, deixou 277 vítimas entre mortos e desaparecidos. A tragédia de Brumadinho levou a mineradora a suspender a produção – a companhia vai deixar de produzir este ano quase 93 milhões de toneladas de minério de ferro, volume que responde por um quarto do total da capacidade de produção da mineradora.

Os primeiros trabalhos da Andrade Gutierrez começarão a ser feitos na barragem Barão de Cocais. Um muro será construído por toda a extensão da barragem para conter os rejeitos antes de o processo de descomissionamento (desativação) da barragem começar a ser colocado em prática.

Envolvida na Operação Lava Jato, a construtora Andrade Gutierrez está se desfazendo de vários ativos para reduzir suas dívidas. Segundo uma fonte familiarizada com a construtora, as negociações para as obras de contenção das barragens da Vale darão um respiro à construtora, que enfrenta problemas financeiros.

Segundo o colunista Lauro Jardim, de O Globo, a companhia estaria em conversas com o grupo chinês Power China para firmar parcerias, com futura venda de seus negócios. De acordo com uma fonte próxima ao grupo, a Andrade não pretende se desfazer de sua participação da CCR, concessionária de rodovias, e não quer abrir mão da construtora.

Procurada, a Andrade Gutierrez não comentou o assunto. Em nota, a Vale informou que “mantém contato regular com empresas especializadas para o desenvolvimento de obras de engenharia para suas operações”. “A Vale segue desenvolvendo estudos relacionados à contenção de algumas estruturas, tendo como premissa a preservação das condições de segurança dos trabalhadores e da população das cidades onde tais estruturas estão localizadas.”

CPI

Na terça-feira, 16, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), se reúne com representantes do Ministério Público, para troca de informações sobre a tragédia e pontos da legislação sobre segurança de barragens que podem ser aperfeiçoados.

A CPI já ouviu seis pessoas, entre elas o ex-presidente da Vale Fábio Schvartsman, além de técnicos e engenheiros da companhia e de empresas contratadas pela mineradora que atestaram a segurança da barragem. Os depoimentos serão retomados no próximo dia 23.

A tragédia da Vale com o rompimento da barragem em Brumadinho colocou em alerta os municípios mineiros que dependem da atividade de extração de minério. Cidades como Itabira, Nova Lima, Ouro Preto e Mariana têm 90% do total de suas arrecadações atreladas à mineradora.

No início de abril, a Vale anunciou o repasse de R$ 100 milhões a municípios mineiros que estão tendo prejuízos com a queda de arrecadação provocada pela paralisação das operações da mineradora. A empresa também negocia com o governo um repasse para o Estado de R$ 550 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.