Os hotéis da cidade de São Paulo entraram em uma briga de foice no escuro. O motivo? Sobram apartamentos para hospedagem e falta quem os ocupe. Há dez anos, eram 5,8 mil quartos disponíveis. Hoje, o número é quatro vezes maior. Segundo José Ernesto Marino Neto, presidente da consultoria BSH International, São Paulo terá em 2005 mais de 32 mil quartos de hotéis. Diante desse quadro, vale tudo para conquistar clientes ? de promoções para fins de semana à organização de festas judaicas, de oferta de ingressos para jogos de futebol ao lançamento de hotéis mais baratos.

O Blue Tree, por exemplo, fechou uma parceria com a TAM para atrair mais gente para seus hotéis. Quem se hospedar neles e tiver o cartão da companhia aérea ganha milhagem. Outra rede, a Sol Meliá, inaugurou três novas unidades em São Paulo este ano, mas criou promoções inusitadas para aumentar as receitas. Recentemente, fechou uma parceria com o São Paulo Futebol Clube para oferecer aos hóspedes um lugar na área vip do Estádio do Morumbi . ?Vejo a hotelaria no País com bastante otimismo?, diz Rui Manuel Oliveira, vice-presidente do Sol Meliá da América do Sul. ?O mercado não pode entrar na guerra de preços.? Não poderia, mas entrou. O Renassaince, do grupo americano Marriott, reduziu suas tarifas em quase US$ 50. Além disso, se especializou em festas judaicas, como casamentos, bar-mitsvá e bat-mitsvá. Mais: a pequena academia do hotel foi aberta para não-hóspedes. Eles também podem utilizar o spa, fazer sessões de massagens e banhos de ofurô. Os serviços e eventos já respondem por 35% da receita do Renaissaince.

A oferta de novos serviços é uma tentativa de compensar a baixa taxa de ocupação nos hotéis paulistanos. Hoje, ela encontra-se em torno dos 35%, nível insuficiente para cobrir sequer as despesas de manutenção. Nem mesmo os mais tradicionais nomes do setor escapam dessa equação. O Maksoud Plaza, um dos mais antigos cinco estrelas de São Paulo, carrega uma taxa de ocupação de apenas 15%, apesar da queda de 30% nos preços das diárias. ?Há uma prostituição do mercado hoteleiro?, ataca Henry Maksoud Neto, diretor do hotel. ?E o culpado foi o crescimento desordenado da rede hoteleira.? Maksoud apelou até para outdoors nos quais anuncia pacotes promocionais e não perdeu a oportunidade de atacar a guerra de preços com o slogan ?Na guerra e na paz prefira um hotel de verdade?, numa referência à inundação de flats na cidade. São
tantos flats e os preços caem tanto que eles involuntariamente se tornaram concorrentes de motéis. Fernando Martins, dono dos Motéis Lumini e Colonial Palace, precisou aumentar a diária para 12 horas mantendo o mesmo preço das tradicionais 4 horas antigas para continuar atraindo casais.

Mesmo a maior rede do País, o grupo Accor redesenhou sua estratégia. Segundo Orlando de Souza, diretor de operações, o Novotel Morumbi chegou a atingir uma taxa de ocupação de ínfimos 12%. Há quatro anos, o Accor já previa o drama e trouxe para o
Brasil a ?solução? Fórmula 1, hotel funcional que, ao reduzir os serviços oferecidos, derrubou drasticamente o custo das diárias. A taxa de ocupação dos Fórmula 1 supera os 90%, graças às tarifas inferiores a R$ 50.

Outro caminho seguido pelos hotéis foi reforçar a área de eventos para o setor empresarial. O Intercontinental inaugurou no início do ano o Staybridge Suítes, uma ?minicidade? de negócios e entretenimento. São 12 mil metros quadrados de área construída, com seis salas de cinema e mais de 12 restaurantes e bares, como Galeto?s, Cervejaria Braumeister e Parmalat. Além disso, ergueu
uma academia comandada pelo ex-jogador de vôlei Marcelo Negrão. ?O hóspede estrangeiro que não conhece a cidade ou que tenha receio de andar por ela encontra no Staybridge todo conforto e
opção de lazer?, diz Antonio Torres, diretor do Intercontinental
Hotels Group do Brasil.