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“Tevez é vital para tornar a marca Corinthians famosa no mundo”

 

 

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“Pirataria não é problema. Os patrocinadores também estão nas camisas falsas”

 

 

DINHEIRO ? Por que a MSI escolheu o Brasil para dar o pontapé inicial nos investimentos em futebol?
KIA JOORABCHIAN ? Simples. O País é o segundo time das pessoas no mundo e os jogadores brasileiros são os melhores do planeta. E isso é um grande diferencial.

DINHEIRO ? Mas a economia brasileira cresce em alguns anos, seguido de
períodos de estagnação. Ainda assim é interessante investir em um local economicamente instável?
JOORABCHIAN ? Eu vou discordar dessa análise, porque há grandes oportunidades em países em desenvolvimento. Sob esse aspecto, o Brasil tem uma extraordinária chance de crescimento. Além disso, reúne condições de assumir uma posição de dominância na América Latina. Basta olhar os números. O País tem mais de 175 milhões de habitantes e uma das nações mais industrializadas do continente. E o potencial se estende ao futebol, times e jogadores. Tem mais: os valores dos clubes europeus são altos. O inglês Arsenal é um exemplo. Na bolsa, ele vale perto de 150 milhões de libras esterlinas (US$ 282 milhões). Mas se você deseja comprá-lo, não o fará por menos de 300 milhões de libras (US$ 563 milhões). É impossível. Além disso é necessário ter muito recurso em caixa, porque as contratações são caras. Os custos são mais altos que no Brasil.

DINHEIRO ? É possível medir o potencial do mercado brasileiro de futebol?
JOORABCHIAN ? É necessário estabelecer uma comparação. Vejo o caso do Manchester United. Há 10 ou 15 anos, esse time valia 30 milhões de libras esterlinas (US$ 56 milhões) na bolsa de valores. Hoje, vale cerca de 800 milhões de libras esterlinas (US$ 1,5 bilhão). E isso foi fruto de um trabalho de médio a longo prazo. Aqui no Brasil, onde o futebol é o melhor do mundo, um clube como o Corinthians tem potencial para ser um dos maiores do planeta. Mesmo porque possui um número grande de torcedores. É claro que o poder de compra desses torcedores não é o mesmo que encontramos na Europa. Mas a quantidade é enorme. O Corinthians tem 25 milhões de fãs. Tudo bem que na Europa há os principais jogadores, que os clubes são ricos, mas isso acontece porque ganham muito dinheiro da televisão. Aqui, não. Lá, os clubes também ganham muito dinheiro dos patrocinadores, da venda de ingressos, de camisas e de outras fontes. Por isso, a venda de atletas é algo secundário. Tudo isso precisa ser desenvolvido no Brasil. Não se pode ter a mídia como única fonte de renda.

DINHEIRO ? Como a MSI enfrentará os problemas de cotas de TV e a desorganização do futebol brasileiro?
JOORABCHIAN ? O fato é que estamos colocando capital no Brasil. E nós sabemos que o futebol brasileiro tem problemas. Aliás, todos os negócios no mundo têm milhares de dificuldades. Se eu estivesse na Inglaterra e comprasse um clube, eu também teria uma porção de problemas. Todo país tem diferentes tipos de dificuldades. No que se refere às cotas de televisão posso dizer que a coisa mais importante que eu tenho visto nos meus encontros com o pessoal da TV Globo ou com outros presidentes de clubes é que todos têm um sonho comum. Eles querem melhorar os estádios, o nível do futebol no País, mantendo os atletas aqui e reduzindo a exportação de jogadores. E se tantos têm o mesmo sonho, alguém precisa dar o pontapé inicial.

DINHEIRO ? Qual é o plano da MSI para o Corinthians?
JOORABCHIAN ? No momento, não tenho números projetados. A idéia é promover o crescimento do Corinthians. Em futebol, eu penso que a mecânica é diferente. Primeiro, é necessário ter um time vencedor. Quando você tem isso, você cria uma atração que trará os torcedores de volta ao estádio. E que pode despertar o interesse global. Queremos que o mundo veja o Corinthians. Depois disso, deveremos começar a ver os benefícios da atração. A compra de Carlos Tevez faz parte desse movimento global. Houve muita repercussão do Corinthians no exterior. Os jornais da Itália, Inglaterra e até do Oriente Médio noticiaram a contratação. A rede de notícias CNN também divulgou o acordo, além da ESPN, Eurosports e outras. Nós nunca esperávamos tanto impacto e tão rápido. E isso tem reflexos para os patrocinadores, que vão entender que o Corinthians está virando internacional.

DINHEIRO ? Então, o motivo da contratação de Carlos Tevez foi promover a exposição internacional do Corinthians?
JOORABCHIAN ? Não! Não foi essa a intenção. A nossa meta é fazer do Corinthians o que chamo de os ?Galácticos da América Latina?. A idéia é transformá-lo em um forte clube latino-americano, aquele que todas as outras equipes gostariam de vencer. E eu quero cumprir isso. Fazê-lo vai demandar diversas ações, como participar de torneios na América Latina e na Europa. Essas competições trarão receita.

DINHEIRO ? Qual é a principal fonte de renda do time?
JOORABCHIAN ? No momento, é a televisão. E a parcela é bem significativa.
Não me lembro ao certo, mas possivelmente é superior a 60%. Depois, são os patrocinadores. A venda de ingressos é muito pequena. As duas principais fontes de renda são a televisão e os patrocinadores. Só depois é que aparecem os ingressos, a venda de camisas… Mas isso não é só no Brasil. Isso é em todo o mundo.

DINHEIRO ? Pretende equilibrar a composição da renda?

JOORABCHIAN ? Não. Nós estamos certos que a televisão sempre terá a maior fatia no orçamento. É assim no mundo. Isso é um fato. A segunda fonte de receita virá dos patrocinadores. O ponto de interrogação é como incrementar o orçamento. E Carlos Tevez e jogadores desse porte ajudam nisso. Por exemplo, o Real Madrid contratou David Beckham do Manchester e pagou pelo menos 25 milhões de libras esterlinas (US$ 47 milhões) por isso. Mas eles já receberam o dinheiro de volta. Eu tenho certeza que as vendas com Beckham foram maiores, tanto em produtos do clube quanto na própria venda de ingressos.

DINHEIRO ? Como o sr. avalia o problema com a pirataria de camisas e outros produtos no Brasil?
JOORABCHIAN ? Isso não é um problema só do País. Isso acontece no mundo.

DINHEIRO ? Mas aqui o índice é bem alto?
JOORABCHIAN ? Sim, é verdade. Certamente, esse número é bem menor na Europa. Mas aqui você tem 25 milhões de torcedores. E mesmo que você tenha um índice de 30% de falsificação, ainda assim o número de venda legal é alto. Em outros lugares, você pode ter um índice de falsificação de 15%, mas o universo é, digamos, de 5 milhões de torcedores. Vamos enxergar como patrocinadores. Qual é o tamanho da exposição do patrocinador no produto falso ou verdadeiro? É enorme. Eles não querem saber se é real ou falso. Eles estão preocupados com a visualização da marca e estão interessados na exposição de seu nome na televisão. Sob esse aspecto, o patrocinador tem que pagar ao clube muito mais dinheiro. Eu sei que isso é um problema do País e um problema econômico mundial. É preciso saber como combater a pirataria.

DINHEIRO ? Terminou o contrato com a Pepsi e com os demais patrocinadores.
O sr. negocia com outras empresas?
JOORABCHIAN ? No momento, estamos discutindo com diferentes companhias mundiais. Deveremos ter patrocinadores em dois ou três meses, porque queremos fazê-los entender que buscamos ser internacionais. E para fazer um bom contrato e trazer grande retorno aos nossos patrocinadores, é necessário que eles vejam o time completo. Nós deveremos contratar vários jogadores. O valor da compra de atletas não é tão importante para mim. O ideal é que os patrocinadores alcancem um alto valor de exposição. Mas a nossa intenção é ter só um patrocinador na camisa, porque é mais bonito e dá mais exposição a quem colocar sua marca no uniforme. (Estima-se que a Pepsi pagava R$ 9 milhões ao ano e a Siemens, R$ 3 milhões. A Nike gasta R$ 15 milhões num contrato até 2006.)

DINHEIRO ? Qual é o potencial da marca Corinthians? E por que a MSI escolheu
esse time?
JOORABCHIAN ? Tenho os números, mas não falo sobre isso. O fato é que São Paulo é a capital econômica do Brasil. Cerca de 50% da geração de riquezas acontece aqui. E Corinthians é o principal time de São Paulo e um dos principais do País. Está junto com o Flamengo.

DINHEIRO ? Como o sr. chegou aos US$ 35 milhões?
JOORABCHIAN ? Os US$ 35 milhões são só o valor de contrato. Mas é necessário considerar os US$ 22 milhões na contratação de Carlos Tevez. Além disso, tem os US$ 20 milhões que serão usados em obrigações futuras e US$ 15 milhões para comprar outros jogadores. Então, até agora, investimos US$ 57 milhões. Por conta desse investimento, não atingiremos o ponto de equilíbrio entre receita e despesa nos próximos anos. Lucro, só no fim de 2008. Se conseguirmos antes, será fantástico.

DINHEIRO ? Como a MSI pretende recuperar o investimento feito em Carlos Tevez?
JOORABCHIAN ? Nós não pensamos no mercado brasileiro. Numa escala global, os US$ 22 milhões são muito baixos. Basta compará-lo com números do mercado inglês. Lá, um dos principais jogadores foi vendido por cerca de US$ 60 milhões. Então, Carlos Tevez, que é um dos principais jogadores da América Latina, foi negociado por um terço do preço. E o contrato de Tevez é de cinco anos e sua multa rescisória aproxima-se de US$ 98 milhões.

DINHEIRO ? O lucro será alcançado por meio da venda de atletas para o exterior?
JOORABCHIAN ? Não, a nossa intenção agora não é vender jogadores para fora do País. A idéia é outra. É exportar o conceito do futebol brasileiro e para isso primeiro vamos montar um Corinthians forte com grande exposição mundial. Essa proposta trará benefícios aos demais clubes do País. Também temos a intenção de montar um canal de tevê que fale sobre o Corinthians, um ?Corinthians TV?. Talvez possamos ajudar na formação de um canal brasileiro de futebol. E isso deverá ser possível em três anos. Acredito que é a melhor forma de exportar a imagem do futebol brasileiro. Mostraremos os jogos, como Corinthians x Palmeiras ou São Paulo x Fluminense. Queremos que o mundo acompanhe o futebol brasileiro.

DINHEIRO ? Quais são as companhias ou pessoas que compõem o fundo de investimento MSI?

JOORABCHIAN ? Não podemos divulgá-los, porque eles preferem o anonimato. Se não querem aparecer é para poder fazer os investimentos. Aliás, alguém sabe quem são os investidores da Hicks Muse Tate & Furst? Não. E do Carlyle, o maior fundo de investimento dos Estados Unidos? Não. É o sistema internacional. Funciona assim.