03/08/2022 - 2:24
O vulcão submarino que entrou em erupção em janeiro deste ano em Tonga lançou no ar mais do que cinzas e gases vulcânicos; também expeliu uma quantidade de vapor d’água equivalente a 58.000 piscinas olímpicas, segundo um estudo publicado na revista Geophysical Research Letters.
Todo esse vapor d’água pode acabar se tornando o fator mais nocivo da erupção, já que potencialmente comprometerá a camada de ozônio e intensificará os efeitos do aquecimento global.
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No novo estudo, pesquisadores usaram dados do satélite Aura da NASA para averiguar a quantidade de água lançada na estratosfera, a segunda camada da atmosfera, que se estende de 7 a 50 km de altura.
Os resultados revelaram que 160.900 toneladas adicionais de vapor d’água adentraram a atmosfera desde a erupção, alcançando uma altitude de 53 km. Trata-se da maior quantidade e altura já atingidas por um fenômeno do tipo desde que satélites começaram a analisar a atmosfera.
“Nós estimamos que o excesso de vapor d’água equivale a 10% da quantidade tipicamente encontrada na estratosfera”, afirmam os autores do estudo. Eles acrescentam que essa quantidade de vapor continuará na estratosfera por aproximadamente 50 anos.
Essa quantidade de água advém do fato de que a erupção ocorreu a 150 metros de profundidade em meio ao Oceano Pacífico. Quando o vulcão entrou em atividade, a água do mar que entrou em contato com o magma rapidamente superaqueceu, o que resultou em uma grande quantidade de “vapor explosivo”. Esse é um dos motivos para a explosão ter sido tão poderosa.
Normalmente, erupções de larga escala liberam grandes quantidades de cinzas e gases, como o dióxido de enxofre, que pode criar compostos reflexivos na atmosfera. Esses produtos químicos podem impedir que os raios solares cheguem à superfície terrestre, o que resulta em um resfriamento da atmosfera.
Todavia, a erupção em Tonga produziu baixos níveis de dióxido de enxofre se comparada a eventos da mesma magnitude. Além disso, a maior parte das cinzas expelidas se precipitou rapidamente à superfície terrestre.
Assim, especialistas inicialmente concluíram que a explosão teria efeitos mínimos no clima do planeta. Contudo, eles se atentaram somente aos níveis de dióxido de enxofre e não incluíram na conta o excesso de água, que pode ser igualmente problemático.
Toda essa água, segundo os autores do estudo, pode aquecer a atmosfera tanto quanto os gases de efeito estufa. Isso significa que a erupção em Tonga pode ser a primeira a causar um aquecimento da atmosfera em vez de resfriá-la.
Os pesquisadores também sinalizaram que um aumento tão brusco do nível de vapor d’água pode diminuir a quantidade de ozônio na estratosfera, potencialmente enfraquecendo a camada de ozônio, que protege a Terra do excesso de raios ultravioletas oriundos do Sol. Isso ocorre porque as moléculas de H2O na estratosfera podem, com o tempo, se tornar íons OH, que, reagindo com o ozônio, resultam em oxigênio e ainda mais água.
Por outro lado, os pesquisadores também especulam que essa “injeção” de vapor d’água pode livrar a atmosfera de uma quantidade considerável de metano (CH4), um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, já que os mesmos íons OH que reagem com o ozônio podem interagir com o metano e produzir um radical metil que concentra menos calor na atmosfera se comparado ao CH4. Espera-se que isso contrabalanceie o aquecimento causado pela reação com o ozônio.
Os autores, porém, alegam que é cedo demais para prever os efeitos climáticos exatos da erupção. “É essencial que continuemos a monitorar os gases vulcânicos desta e de erupções futuras para melhor quantificar seus papéis no clima”, afirmam os cientistas.