Nesta semana, a Marisa anunciou que vai fechar 91 lojas até o final de 2023. O anúncio é só mais um na crise que o setor de varejo vive no Brasil. Em abril, a Tok & Stok também anunciou o fechamento de lojas e demissões de funcionários. Com uma dívida estimada de R$ 600 milhões, a empresa pode entrar com o pedido de recuperação judicial. 

O varejo sempre foi um setor que colecionou muitos problemas judiciais e falência no país. Casos mais antigos como a Mesbla e o Mappin, chegando até o prejuízo bilionário da Americanas em 2023. 

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“É extremamente difícil de operar o varejo pelo fato de ser um setor comoditizado de maneira geral, ou seja, existe baixa diferenciação entre os players. Portanto, para uma empresa conseguir ter sucesso em alguns segmentos do varejo é importante investir muito em tecnologia para melhorar a experiência do cliente, marketing e branding”, afirmou Lucas Lima, analista da VG Research. 

“A Marisa se encaixa perfeitamente como exemplo de uma empresa que não possui tanta diferenciação entre os seus principais pares, ou seja, não consegue ter uma vantagem competitiva relevante”, apontou Lima.

Setor macroeconômico interfere

Um outro ingrediente no problema das varejistas brasileiras é o cenário macroeconômico atual. Juros altos, inflação fora da meta e endividamento alto das famílias afetam em cheio o setor.  

“Historicamente temos uma consolidação de poucos players atuando no varejo, além das margens apertadas. O fechamento de lojas e as recuperações judiciais mostram o varejo brasileiro como ele sempre foi, com margens pequenas e muito suscetível aos juros e o acesso ao crédito. Em um cenário de juros baixo elas conseguem financiamento, cashbacks e condições melhores para o consumidor final”, explica Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos.   

Competição com os chineses

A entrada no Brasil dos e-commerces chineses como o Ali Express e a Shein também mexeu muito com o setor e o varejo brasileiro pressiona o governo para uma taxação desses players internacionais.

Com prazos de entrega cada vez menores, qualidade de produtos alta, mão de obra mais barata e preços mais baixos, esses varejistas chegam ao Brasil e, com uma população endividada e juros altos, enxergam um terreno fértil para o crescimento. 

No mês de Abril, o Ministério da Fazenda anunciou que iria passar a taxar compras abaixo de US$ 50 feita por brasileiros em sites internacionais. A medida sofreu uma forte rejeição, principalmente nas redes sociais, e o ministro Fernando Haddad voltou atrás. Lima afirma que a pressão das varejistas brasileiras deve continuar, mas que não acredita que a taxação virá no médio prazo. 

“Sem dúvida a Marisa é uma das empresas que mais estão sofrendo com a forte entrada da Shein no Brasil, isso porque elas disputam basicamente pelo mesmo público alvo, que são mulheres da Classe C. A presença da Shein no Brasil é importante até mesmo para que as empresas brasileiras busquem ser mais competitivas e invistam em tecnologia, para só assim tentarem competir com as plataformas asiáticas”, explicou. 

A opinião converge com a do coordenador do curso de MBA em Gestão de Negócios da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Roberto Falcão, que explica que o caminho deve ser ir além da taxação das plataformas e focar em uma correção de rota de empresas e uma polícia de estado para o setor. 

“É muito mais uma questão de gestão interna, rever modelo de negócios, rever precificação, compatibilização entre estrutura de custo, plataforma de custo e faturamento potencial, junto com uma política de Estado que queira proteger e desenvolver a nossa indústria, mas sem criar uma barreira de entrada e reserva de mercado”, encerrou.