Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO (Reuters) -O setor de varejo brasileiro iniciou 2023 com mais força do que o esperado e com alta recorde nas vendas de janeiro, embora a perspectiva seja de que o cenário de crédito apertado e economia fraca no Brasil, com juros elevados, deve pesar sobre o setor à frente.

Em janeiro, as vendas no varejo tiveram alta de 3,8% em comparação com o mês anterior, marcando a maior variação para o mês desde o início da série histórica, em 2000. O avanço também é o maior para qualquer mês desde julho de 2021.

Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também apontam alta de 2,6% na comparação com janeiro do ano passado. Janeiro também foi marcado pelo pedido de recuperação judicial da Americanas, uma das maiores redes varejistas do país.

Ambas as leituras superaram as expectativas em pesquisa da Reuters de alta de 3,2% na base mensal e de 1,4% na anual.

Com isso, o comércio varejista diminui a distância para o nível recorde da série, de outubro de 2021, que agora é de -2,9%.

“É um resultado importante, porque o comércio vinha de resultados negativos ou estabilidade”, afirmou Cristiano Santos, gerente da pesquisa, ressaltando entretanto a base de comparação fraca – nos dois últimos meses do ano passado, as vendas acumularam perda de 3,5%.

“Foi uma alta depois de dois meses de queda que formou uma base mais fraca. Parte dessa alta tem a ver com um último trimestre mais frágil”, explicou.

Os dados corroboram com comentários de executivos do setor em meados de março. O presidente do Magazine Luiza, por exemplo, Frederico Trajano, afirmou em 10 de março que o desempenho de vendas de janeiro da empresa “ficou acima das expectativas”.

Entre as oito atividades pesquisadas, sete apresentaram aumento das vendas no primeiro mês do ano.

“Tivemos Black Friday e Natal ruins, e houve no começo de 2023 uma onda de promoções e liquidações. Essas promoções de verão puxaram as vendas”, disse Santos.

Os destaques em janeiro foram os crescimentos de 27,9% no setor de tecidos, vestuário e calçados; e de 2,3% em hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo.

“Os resultados refletem deflação e promoções no caso de vestuário, e inflação menor e renda maior no caso dos supermercados”, explicou o gerente do IBGE.

O único setor que registrou queda nas vendas em janeiro foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, de 1,2%.

As vendas no comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças; material de construção e agora atacado especializado em alimentos, bebidas e fumo, avançaram 0,2% em janeiro na comparação com dezembro.

O desempenho do varejo no país contrasta com a produção industrial, que em janeiro registrou contração de 0,3% na produção em relação ao mês anterior, e os varejistas tendem a enfrentar agora as consequências dos juros altos no país, que encarecem o crédito.

“Apesar da leve recuperação do varejo em janeiro…as perspectivas para o setor à frente não são positivas. A economia está em desaceleração, sentindo os efeitos dos juros elevados e essa tendência deve continuar à frente, afetando o desempenho do varejo”, disse em nota Claudia Moreno, economista do C6 Bank, que prevê que as vendas varejistas passarão a andar de lado daqui para frente.

O IBGE informou ainda que esta foi a primeira divulgação da nova série da pesquisa, que passou por atualizações na seleção da amostra de empresas, ajustes nos pesos dos produtos e das atividades, além de alterações metodológicas, para retratar mudanças econômicas da sociedade.

(Edição Alberto Alerigi Jr.)

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