O comércio varejista tem mostrado uma mudança no padrão de vendas, que sinaliza antecipação de compras de Natal para novembro, durante as promoções da Black Friday. Com isso, o desempenho do setor torna-se mais fraco em dezembro e volta a ganhar força em janeiro, possivelmente em decorrência das liquidações de início de ano. A avaliação é do gerente da Pesquisa Mensal de Comércio no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cristiano Santos, para quem esse fenômeno pode estar ligado a uma mudança no perfil do consumidor.

As vendas do varejo cresceram 2,5% em janeiro ante dezembro, a primeira alta estatisticamente significativa desde setembro do ano passado, quando o crescimento foi de 0,8%, disse Santos. As vendas oscilaram próximas à estabilidade em outubro (-0,3%) e novembro (0,2%), resultado sucedido por uma queda de 1,4% em dezembro de 2023.

A alta no varejo em janeiro de 2024 foi o melhor desempenho das vendas desde janeiro de 2023, quando houve crescimento também de 2,5%.

“Janeiro alto é reflexo de um dezembro baixo”, disse Santos. “É um padrão que a gente observa nesses últimos dois anos”, acrescentou.

Segundo ele, esse padrão de um Natal não tão intenso e de um janeiro mais forte em vendas ocorreu tanto em 2023 quanto em 2024, mas não tinha sido visto nos três anos anteriores.

“A Black Friday acaba concentrando cada vez mais as vendas em novembro, de certa maneira, acaba roubando o protagonismo do Natal”, justificou Santos. “Esse dado de janeiro pode ter também esse reflexo de mudança no perfil de consumo do brasileiro. As pessoas já fizeram as compras de Natal em novembro e aguardam as promoções de janeiro.”

Segundo o pesquisador, “não é garantido que exista um fator sazonal latente”, porém, foi o que ocorreu nos últimos dois anos, então “é possível que esse comportamento seja consciente do consumidor”.

Na passagem de dezembro de 2023 para janeiro de 2024, houve crescimento em cinco das oito atividades pesquisadas: Tecidos, vestuário e calçados (8,5%), Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (6,1%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,2%), Móveis e eletrodomésticos (3,6%) e Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,9%). Os recuos ocorreram em Livros, jornais, revistas e papelaria (-3,6%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,1%) e Combustíveis e lubrificantes (-0,2%).

Segundo Santos, o resultado positivo de janeiro foi bastante puxado por atividades que tiveram desempenho pior em dezembro. No entanto, os supermercados também cresceram, atividade de maior peso no varejo, contribuindo para uma melhora na média global.

As vendas de supermercados crescem há três meses seguidos, sendo esse avanço mais significativo em dezembro e janeiro. Santos lembra que o desempenho de atividades varejistas que ofertam produtos básicos depende da capacidade de compra dos consumidores. Ele acrescenta que o cenário atual inclui a redução na taxa de juros, que contribui para a expansão nas concessões de crédito, e uma melhora no mercado de trabalho, com mais pessoas ocupadas e a massa de rendimento em crescimento.

Os últimos avanços no volume vendido por supermercados “têm a ver também com a melhora geral dessas condições de compra”, afirmou Santos.

Embora ele reconheça que o aumento da renda disponível e a expansão do crédito tendem a favorecer o comércio, não necessariamente essa folga orçamentária vai para o varejo. Em 2023, lembra Santos, houve opção das famílias por preferir quitar o pagamento de dívidas em vez de gastar em compras.

No comércio varejista ampliado – que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício -, as vendas cresceram 2,4% em janeiro ante dezembro. O setor de Veículos e motos, partes e peças teve expansão de 2,8%, enquanto Material de construção encolheu 0,2%.

Com a reformulação periódica da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), o desempenho do varejo ampliado passou a incluir os dados do atacado alimentício, mas ainda sem informações individuais para essa atividade na série com ajuste sazonal. O IBGE explica que é necessário ter uma série histórica mais longa para ter uma base de dados consistente para as divulgações ajustadas sazonalmente.