10/01/2022 - 19:06
Parece coisa do passado: representantes comerciais indo de porta em porta para oferecer produtos apresentados em catálogos de papel. Mas há um toque digital: eles também abordam clientes de forma remota, pelo WhatsApp e nas redes sociais, atuando como guias de uma jornada de compra on-line. Em tempos de desemprego em alta e economia no limbo, o mercado de vendas diretas, que movimentou R$ 50 bilhões em 2020 no Brasil, anda bem, obrigado. A despeito da famigerada ideia de um consumidor independente na era digital, os 5% de crescimento que o setor das vendas diretas reportou no primeiro ano da pandemia reflete a distorção nesta leitura. É um caso de estratégias complementares: o investimento em canais eletrônicos não é homogêneo e, para atender o público com pouca familiaridade com o mundo digital ou que está fora da cobertura da rede física, a força de trabalho nas vendas diretas se torna crucial.
Mesmo com o aumento de 38% do faturamento com o e-commerce em 2021 (dados da Confederação Nacional do Comércio), o movimento em vendas diretas é essencial para fisgar os 12% dos consumidores que, segundo levantamento do IDC, ainda escapam às garras do comércio eletrônico. Em 2020, a rede Marisa ingressou nas vendas diretas digitais por meio do programa Sou Sócia, que já tem mais de 30 mil vendedoras no País. Já a Pernambucanas, uma das últimas a aderir à tendência, investiu R$ 10 milhões no desenvolvimento do seu canal de vendas diretas, lançado em dezembro. Depois de um ano em que até grandes varejistas amargaram resultados negativos, qualquer espaço nesse mercado é precioso demais para se perder.
A indústria também percebeu a força das vendas diretas. Na Ambev, as vendas pelo app Zé Delivery bateram recorde no último ano. Embaladas pelo salto digital nas vendas, esse canal direto com o consumidor é ainda um atalho para as fabricantes driblarem a inflação acumulada em mais de 10%. Varejistas reagem, elevando suas apostas com ofertas até da carteira de produtos financeiros nas vendas diretas. Diante do turbulento horizonte para a economia em 2022 e das incertezas sobre o cenário da Covid-19, o momento no varejo é de se aproximar do consumidor, física ou digitalmente, e reforçar seu papel capilar no mercado.