O comércio varejista começou o ano com crescimento robusto. Após expansão de 2,8% em janeiro, o volume vendido avançou mais 1% em fevereiro, o que fez o setor atingir novo patamar recorde, segundo os dados divulgados nesta quinta-feira, 11, pelo IBGE.

O resultado surpreendeu analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma queda mediana de 1,3%. Com mais esse dado, economistas passaram a ver espaço para uma expansão maior do PIB no primeiro trimestre deste ano. Mas também levantou preocupações sobre o processo de desinflação no País – e, consequentemente, sobre o ritmo dos cortes de juros.

“A contar pelo número do varejo, me parece que a probabilidade de um crescimento mais forte do PIB aumentou”, afirma o economista Helcio Takeda, da Pezco, que adicionou viés de alta nas projeções de expansão da economia no primeiro trimestre (0,6%) e em 2024 (2,2%). “O cenário já estava melhor com os dados de janeiro, e esse resultado (de fevereiro) aumenta a sensação.”

O analista chama atenção, porém, para o crescimento de alguns segmentos do varejo mais atrelados ao crédito, o que pode indicar algum estímulo ao setor vindo dos cortes já promovidos pelo Banco Central na Selic. “Se essa percepção for verdade, e começarmos a ver condições favoráveis para o varejo nos próximos meses, pode ter um desafio na dinâmica da inflação de bens (industriais).”

Avaliações

Outros economistas mencionaram avaliações similares após a divulgação dos dados. Em relatório, os economistas Álvaro Frasson e Victor Esteves, do BTG Pactual, afirmaram que os números do varejo podem não só levar o mercado a aumentar as projeções de crescimento do PIB neste ano, como também reforçam a chance de desaceleração do ritmo de cortes da taxa Selic a partir de junho.

“O dado reforça as probabilidades em torno da redução do ritmo de corte de juros pelo Banco Central na reunião de junho, que ganha corpo após a leitura do IPCA que, mesmo surpreendendo para baixo, mostrou resiliência na inflação de serviços intensiva em trabalho e também com o maior pessimismo sobre o ciclo de flexibilização monetária pelo Fed (o banco central americano)”, escreveram eles.

O Santander aumentou as suas estimativas de alta frequência (tracking) para o crescimento do IBC-Br (espécie de “prévia” oficial do PIB) de fevereiro, de 0,4% para 0,7%, e do PIB do primeiro trimestre, de 0,7% para 0,8%. Já o C6 Bank adicionou viés de alta à projeção de crescimento da economia em 2024, hoje em 2,4%, e mencionou a percepção de menor espaço para o afrouxamento monetário. “Há chance de a autoridade monetária não chegar a uma taxa terminal de juros de 9,25%, que é a nossa atual projeção para a Selic de 2024”, diz a economista do banco Claudia Moreno.

Fatores

O crescimento do varejo no primeiro bimestre de 2024 foi impulsionado pela expansão do crédito, pelo aumento da massa de salários em circulação na economia e pela redução de preços em itens como vestuário e eletrodomésticos, enumerou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.

Na passagem de janeiro para fevereiro, houve aumento nas vendas em seis das oito atividades pesquisadas pelo órgão: artigos farmacêuticos e perfumaria (9,9%); outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui lojas de departamentos (4,8%); livros e papelaria (3,2%); móveis e eletrodomésticos (1,2%); equipamentos de informática e comunicação (0,5%); e vestuário e calçados (0,3%). Na direção oposta, o volume vendido recuou em combustíveis (-2,7%) e supermercados (-0,2%).

Quanto ao varejo ampliado – conceito que inclui as atividades de material de construção, veículos e atacado alimentício -, as vendas cresceram 1,2% em fevereiro ante janeiro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.