30/11/2021 - 8:42
Vítima brutal da pandemia, a economia mundial convalescente já é afetada pela variante ômicron do coronavírus, que vem acompanhada de medidas restritivas, principalmente no setor de transporte aéreo.
Reportada pela primeira vez há menos de uma semana à Organização Mundial da Saúde (OMS) pela África do Sul, esta nova cepa foi detectada do Pacífico à Europa, passando pelo Canadá, levando cerca de 40 países a anunciar novas restrições de viagem.
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A gravidade do impacto econômico dependerá do perigo apresentado por esta nova variante, da cobertura vacinal da população mundial e da resistência da cepa às vacinas disponíveis.
– Previsões reduzidas –
No entanto, do cenário mais favorável às hipóteses mais sombrias, os economistas já estão baixando todas as projeções para 2022.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) assinala há meses que a covid-19 continua sendo o principal fator de risco para a economia mundial e apela para a aceleração da vacinação.
Em outubro, esperava um crescimento de 4,9% para o próximo ano.
O impacto econômico pode ser “modesto” na ordem de 0,25 ponto percentual no crescimento mundial se a ômicron causar “sintomas relativamente leves” e as vacinas forem “eficazes”, comenta Gregory Daco, economista-chefe da Oxford Economics.
No pior cenário, onde a variante se torna extremamente letal e força uma grande parte da população mundial a ser confinada, o crescimento estimado para 2022 poderia ser reduzido para 2,3% contra os 4,5% estimados pela Oxford Economics antes do surgimento desta variante.
Mesmo nesse cenário, não é certo que os governos que gastaram bilhões de dólares em ajudas desde o início da pandemia estejam dispostos a tomar mais medidas de estímulo fiscal, especialmente se houver vacinas disponíveis, observa Daco.
“Esses aspectos serão fundamentais para determinar em que medida afetará a economia mundial e o comportamento das pessoas”, enfatiza Erik Lundh, economista do Conference Board.
– Restrição e escassez –
Além das medidas tomadas pelos governos o medo de se infectar pode levar as pessoas a não viajar ou sair para jantar, por exemplo, reduzindo o risco de contágio, mas também de consumo, afetando o crescimento, acrescenta.
Outro risco é a exacerbação dos problemas nas cadeias de abastecimento globais e pressões inflacionárias.
Porque “grande parte do transporte aéreo passa por voos que transportam passageiros”, lembra Erik Lundh. “Se houver cancelamento de voos, interrupção da demanda por voos comerciais de passageiros, corre-se o risco de limitar o frete aéreo”, afirma.
Além disso, uma onda de infecções pela variante ômicron “pode fazer com que alguns trabalhadores deixem temporariamente a força de trabalho e desencoraje outros de retornar, exacerbando a atual escassez de mão de obra”, diz Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, em uma nota.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerou na segunda-feira que “não há motivo para pânico”, mesmo que o país tenha sido colocado em “alerta precoce”.
Quanto aos fabricantes de vacinas, tanto a AstraZeneca quanto a Pfizer/BioNTech, Moderna e Novavax expressaram confiança em sua capacidade de combater esta variante.
– Juros –
A ameaça de uma nova variante potencialmente mais grave, no entanto, complicará a tarefa dos bancos centrais, que podem “adiar seus planos de aumentar as taxas de juros até que a situação fique mais clara”, aponta Shearing.
O Federal Reserve (Fed) se reunirá no dia 15 de dezembro, e vários outros, incluindo o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra, no dia seguinte.
“Saberemos muito do que há para saber (sobre a variante ômicron) em algumas semanas”, disse o CEO da Pfizer, Albert Bourla, à rede americana CNBC na segunda-feira.
Enquanto isso, “a incerteza é prejudicial”, observa Gregory Daco. “Cada vez que o clima de incerteza e medo retorna, a recuperação da economia mundial desacelera”.
Na segunda-feira, o próprio presidente do Fed, Jerome Powell, alertou que a ômicron é um risco para a economia americana, um dos motores da atividade global junto com a China e a Europa.