Planejar a aposentadoria é um comportamento cada vez mais comum no Brasil. Em 2011, o volume arrecadado pelos planos privados de previdência foi de R$ 53,5 bilhões, um crescimento de 16% ante 2010, segundo a Federação Nacional de Vida e Previdência (Fenaprev). O patrimônio total dessa “indústria” atingiu R$ 269 bilhões no fim do ano passado, um avanço de 20,5%. Apesar da captação saudável, o desempenho financeiro dos planos não foi motivo para comemorações. Uma pesquisa do sistema Economática mostra que a rentabilidade média dos fundos de previdência exclusivamente dedicados à renda fixa foi de 10,4%, levemente abaixo da variação dos juros de mercado medidos pelo CDI. 

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Sérgio Jacomini: o empresário paulista começou a poupar para a aposentadoria desde os 21 anos,

mas evita aplicações em ações.

 

A queda das ações no ano passado também prejudicou o desempenho. O índice Bovespa, principal indicador do mercado acionário brasileiro, recuou 18,1%, e, na média, os fundos de previdência que mantêm parte de seus recursos na renda variável amargaram uma queda de 0,5%. Esses números trouxeram uma preocupação a mais para quem usa esses planos: assegurar uma renda adequada após a aposentadoria. São 7,2 milhões de pessoas (em 2010 eram 5,9 milhões) que buscam um futuro sem sustos e estão tendo de enfrentar uma queda sistemática dos juros no Brasil. A dúvida é se a rentabilidade menor irá aumentar os riscos de que o pé de meia seja esgarçado pelas traças da inflação ou, quem sabe, será estraçalhado pelas garras impiedosas do Leão do Imposto de Renda no futuro, quando o benefício for utilizado. 

 

Nos países desenvolvidos, a solução é correr mais riscos, dedicando uma fatia maior do patrimônio à renda variável. Como fazer isso no mercado brasileiro? Segundo os especialistas, com moderação. O economista Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, avalia que os riscos dessa estratégia são mais elevados por aqui. Ainda não é possível, diz ele, seguir o exemplo dos EUA. “Um investidor americano que invista o dinheiro de sua previdência privada quase totalmente em ações dos Estados Unidos vai provavelmente obter um retorno maior que o da renda fixa, mas não é possível dizer o mesmo no Brasil”, afirma Dana. 

 

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Para o professor, é impossível prever o comportamento da bolsa para os próximos 30 anos, pois a economia brasileira variou muito nas últimas décadas e ainda pode apresentar grandes solavancos. “Em um ano, quem aplicou em Vale ou Petrobras pode ganhar 80% ou perder 60% do patrimônio investido”, afirma. Por isso, uma alternativa é usar a renda variável como um fermento para acelerar o crescimento do patrimônio, reduzindo os riscos enquanto acumula capital. E buscar aplicações que mixem as duas classes de ativos. “Os fundos podem ter no máximo 50% de ações, o que permite a possibilidade de ganhos superiores aos da renda fixa”, diz Georges Gerbauld Catalão, estrategista da empresa independente carioca Lecca Investimentos. 

 

Assim, o investidor pode calibrar o retorno que deseja para seus fundos de previdência e o risco que está disposto a correr para isso. O ideal, recomenda, é que o investidor comece dedicando uma fatia mais generosa para as aplicações em bolsa, de modo a acelerar o crescimento do capital aplicado. Ao longo do tempo, conforme a tolerância ao risco diminui, a sugestão é migrar para fundos com uma fatia maior de renda fixa. À primeira vista, essa estratégia não compensa. Samy Dana comparou o comportamento desses produtos com os juros de mercado entre dezembro de 2007 e janeiro de 2011. Nesse período, o CDI rendeu 10,98% ao ano contra 8% ao ano do fundo de previdência. 

 

No entanto, essa desvantagem da previdência privada deve mudar drasticamente nos próximos anos, com a perspectiva de queda dos juros no longo prazo. Há dois tipos de fundos mais comuns na previdência privada: VGBL e PGBL. Ambos podem oferecer maior ou menor fatia de renda variável em sua composição. Rodrigo Marcatti, diretor do private bank do Banco Fator, diz que a vantagem de se investir em um plano de previdência do tipo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é o diferimento do imposto, ou seja, o recolhimento do IR somente na retirada dos recursos. Nos fundos de investimento convencionais, as carteiras são cobradas semestralmente, numa prática conhecida por “come-cotas”, que reduz o tamanho do bolo. 

 

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“No VGBL, o resultado será melhor, pois haverá mais dinheiro rendendo durante a acumulação”, afirma. Já os fundos do tipo Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) funcionam como os fundos de investimento convencionais, e o imposto de renda sobre o ganho financeiro é descontado em maio e em novembro. As taxas são regressivas e chegam a um mínimo de 10% após dez anos ininterruptos de aplicação. “Vale a pena pesquisar as taxas de administração, pois elas influenciam diretamente nos rendimentos”, afirma Marcatti. “A principal vantagem da previdência está na tributação mais baixa nas aplicações de prazo mais longo, e esse benefício fiscal vai fazer cada vez mais diferença ao longo dos próximos anos”, diz Dana. 

 

Segundo ele, no longo prazo, a isenção fiscal pode representar um desconto de 0,9% a 3,3% ao ano. Para aproveitar-se disso, o investidor terá de planejar aplicações de prazo mais longo. É o que tem feito o empresário paulistano Sérgio Olivetti Jacomini, 27 anos. Ele pretende se aposentar em 2040, aos 55 anos. Os planos são ambiciosos, mas ele começou devagar e ainda faz as contas para receber R$ 1.500, por mês, montante que vai complementar os rendimentos da sua agência de turismo. “Se o faturamento da minha empresa aumentar, vou investir mais em previdência privada”, diz Jacomini. 

 

O importante é começar – e isso ele já fez, com aportes regulares de R$ 250 por mês. “Comecei a preparar minha aposentadoria quando abri a empresa, pois quero ter uma renda no futuro, independente do sucesso do meu negócio.” Mesmo ousado como empresário, ele não quer arriscar seu patrimônio no mercado de ações. Parte dos recursos de sua empresa está investida em fundos cambiais, com vistas a uma expansão internacional. “No segundo semestre vou abrir uma filial na Europa, por isso o capital da companhia está protegido por aplicações em dólar e em euro”, diz ele. “Mas o meu patrimônio, eu não arrisco.”

 

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