Depois de 20 anos de Brasil, a francesa Essilor, criadora das lentes Varilux, aprendeu sua primeira lição em português. Líder mundial no mercado de óculos ? um em cada quatro usuários do mundo tem seus produtos ?, a centenária empresa decidiu aplicar um termo em moda no setor farmacêutico e criou sua marca ?genérica?: a Brasilor. Trata-se da sua divisão nacional de negócios, que vende produtos Essilor a preços competitivos. As lentes são, em média, 40% mais baratas que as originais. ?Queríamos segmentar o mercado para atingir todas as camadas da população?, explica Jean-Baptiste Guerry, diretor de marketing da empresa. ?Para o consumidor, não interessa a marca, apenas a qualidade e o preço.? A Brasilor é uma espécie de ponta de estoque. Vende lentes da empresa que não sejam as top de linha.

Com essa estratégia arrojada, o Brasil virou referência mundial.
É o único dos 100 países em que opera onde as duas divisões crescem paralelamente. E vertiginosamente. Em 2000, o grupo vendeu, no Brasil, 10 milhões das 35 milhões de lentes comercializadas. Em faturamento, abocanhou 45% do mercado.
O País já é a terceira filial em vendas. Em números globais, parece pouco ? apenas 3,2% dos negócios da Essilor (que faturou US$ 1,8 bilhão em 2000). ?Mas é o país que oferece melhor expectativa de crescimento?, explica Guerry. ?A população está envelhecendo e vai precisar de óculos.? Os primeiros meses de 2001 foram fantásticos. ?Apesar do apagão, crescemos 20%.?

Os números da Essilor impressionam. A cada minuto dez consumidores em todo o mundo compram uma lente Varilux.
Criado em 1949, o produto provocou uma revolução no setor. Até então, as lentes tinham um único ponto onde os olhos humanos focavam para corrigir a deficiência. ?A cada movimento, os olhos ficavam embaçados?, explica Synésio Batista, presidente da Associação Brasileira de Óptica (Abiótica). A Varilux, composta de microlentes, acompanha os olhos e se adapta ao movimento. O produto mudou o conceito do setor.

Este mês, a empresa apresentou outra novidade: Varilux fotossensível. Quando exposta ao sol, a lente escurece. E, em ambientes iluminados, volta a ficar transparente. Este é apenas
um dos novos produtos da empresa que gasta, anualmente,
5% do faturamento em tecnologia. ?A segunda revolução
está começando?, diz Guerry. Ela tem um nome: Panamic
ou lente para vistas cansadas.

Apesar do otimismo, a Essilor não está sozinha. Todas as gigantes já se instalaram no País ? a japonesa Hoya, a americana Sola e a alemã Zeiss, entre outras. Todas, de olho em um mercado que cresce 6% ao ano ? contra a média mundial de 3% ? e deve fechar 2001 com vendas de R$ 300 milhões.