18/01/2017 - 13:37
Enquanto Barack Obama se prepara para deixar a Casa Branca, no dia 20 de janeiro, segue uma lista com dez motivos pelos quais será lembrado na Presidência:
– Fazer história –
Se os historiadores tivessem que escrever apenas uma coisa sobre Barack Hussein Obama, destacariam que, 143 anos após a abolição da escravidão, o jovem senador de Illinois se transformou no primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Com 47 anos recém comemorados quando assumiu, em 2009, Obama aproveitou-se da oratória magistral para fazer uma coalizão eleitoral diversa, com uma mensagem de “esperança e mudança”.
Depois de assumir, tentou transformar a poesia em prosa de governo.
– Grande demais para fracassar –
O primeiro mandato de Obama foi marcado pela queda livre da economia.
A crise imobiliária de 2008 provocou uma crise financeira e sacudiu bancos e líderes de Wall Street. A metástase gerou uma crise de proporções globais.
O ex-presidente George W. Bush e o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tinham feito os primeiros esforços de contenção, mas Obama enfrentou a oposição ideológica com grande estímulo fiscal, aumentando o gasto público em 831 bilhões de dólares.
Agora que deixa o governo, as consequências sociais e políticas daquele choque ainda são sentidas, mas a economia gerou empregos nos 75 meses seguintes.
– “A justiça foi feita” –
“Esta noite posso anunciar ao povo americano e ao mundo que os Estados Unidos realizaram uma operação que resultou na morte de Osama bin Laden”.
Com estas palavras, no dia 2 de maio de 2011, Obama expurgou a ira e a frustração de milhões de americanos. O país mais poderoso do mundo finalmente conseguia punir o autor dos ataques de 11 de setembro de 2001.
A arriscada operação das forças especiais também foi ilustrativa para a polêmica estratégia de ataques com drones, na luta contra o terrorismo.
A Al Qaeda continua poderosa, mas as cúpulas no Afeganistão e no Paquistão foram dizimadas.
– Esforço legislativo –
“É um dos poucos arrependimentos da minha gestão, que o rancor e a suspeita entre os partidos tenham piorado ao invés de melhorar”, disse Obama no último discurso sobre o Estado de União.
Desde que Obama foi eleito, os republicanos no Congresso se opuseram ao presidente com unhas, dentes e votos.
Os esforços para fechar a prisão de Guantánamo e promulgar o controle de armas – inclusive após o massacre de estudantes na escola Sandy Hook, o ponto emotivo mais baixo de sua Presidência – fracassaram, devido ao rancor partidário.
– Acordo com o Irã –
Durante mais de duas décadas, os Estados Unidos aplicaram sanções e ações sigilosas para impedir que o Irã tivesse uma arma nuclear. Obama tentou uma abordagem diferente, iniciando um diálogo secreto com a República Islâmica.
A manobra resultou em um acordo que fez com que o Irã parasse a iniciativa para ter armas nucleares, em troca do alívio das sanções e maior legitimidade internacional.
O pacto enfraqueceu as relações dos Estados Unidos com os inimigos do Irã, Israel e Arábia Saudita, mas impediu o avanço armamentista no Oriente Médio e desativou as tensões entre Washington e Teerã, que perduravam desde a revolução islâmica de 1979.
– Sem mudanças na Síria –
Nenhuma crise internacional colocou à prova a política externa de Obama como a da Síria.
Mesmo quando Bashar al Assad desafiou a linha vermelha de Obama sobre as armas químicas e matou um número incontável de civis, com o apoio das forças russas e iranianas, o presidente que chegou ao poder com a promessa da anti-guerra negou os chamados para se envolver.
Os críticos ainda vão debater muito tempo para analisar se a política de Obama foi apropriada e até que ponto essa decisão atrapalhou a reputação americana, com o crescimento do grupo extremista Estado Islâmico, e incentivou a migração para a instável Europa, permitindo a Rússia e o Irã aumentarem a influência na região.
– Mudar o clima –
Depois do ceticismo climático de Bush, os oito anos de Obama no poder terminaram com um maremoto de legislação ambientalista, proteção marinha e dos ecossistemas, contenção das emissões de carbono e o relançamento das energias renováveis.
Em uma tentativa de incluir o ambientalismo na política americana, Obama escalou geleiras no Alasca, mergulhou na ilha de Midway e acelerou a ratificação do Acordo Climático de Paris.
A agenda ambientalista tem o risco de ser deixada de lado, frente aos ataques constantes de seu sucessor, Donald Trump.
– Obamacare, um grande acordo –
Os democratas tentaram, e fracassaram, durante décadas em fornecer um plano de saúde universal aos americanos. Obama não conseguiu alcançar a meta, mas estendeu a cobertura médica a milhões de cidadãos que antes não tinham nada.
Os republicanos criticaram o “Obamacare” como a encarnação do socialismo. Mas não conseguiram evitar que o projeto fosse aprovado no Congresso. Ainda assim, podem conseguir que o programa seja revogado com a gestão Trump.
– Conhecendo os vizinhos –
A viagem de Obama a Cuba será lembrada da mesma forma que a visita de Richard Nixon à China. No fundo, a missão americana na ilha comunista foi o movimento inicial de um esforço maior para melhorar as relações com a América Latina.
Quase 100 dias depois da chegada ao poder, Obama disse aos líderes regionais na Cúpula das Américas que os Estados Unidos tinham mudado. A estratégia era negar qualquer tipo de pretexto para presidentes, como Hugo Chávez, criarem um espetáculo anti-Estados Unidos.
Ele apertou a mão do venezuelano Hugo Chávez, reuniu-se com o nicaraguense Daniel Ortega e visitou a tumba do arcebispo de El Salvador Oscar Arnulfo Romero, assassinado por esquadrões da morte vinculados com os EUA.
Obama mencionou erros no golpe que levou o ditador Augusto Pinochet ao poder, no Chile, publicou documentos sobre a participação de Washington na guerra suja da Argentina e visitou Havana.
– A grande promessa, cumprida em parte –
A reeleição em 2012 se apoiou na promessa de uma ampla reforma no sistema migratório para regularizar a situação de cerca de 11 milhões de pessoas em situação ilegal.
O Senado chegou a aprovar uma complexa lei migratória, mas o projeto ficou parado e sem esperanças na Câmara de Representantes, controlada pelo Partido Republicano na época.
Obama tentou cumprir a promessa, assinando decretos de alívio migratório, que poderiam beneficiar a 4 milhões de imigrantes. Mas o projeto também foi bloqueado, desta vez na Justiça.