O mês de novembro foi marcado no mercado financeiro por uma forte valorização do dólar e pelo pior desempenho do Ibovespa desde 2016.

+ Por que o desemprego em mínima histórica não é boa notícia para o mercado e o BC

De acordo com levantamento da consultoria Elos Ayta, naquele ano, o principal índice da B3 caiu 4,65%. Agora, em 2024, a queda chegou a 4,09% entre os pregões de 26 e 28 de novembro, fechando o mês acumulando um recuo de 3,12%.

Com a tão aguardada divulgação nessa semana sobre o pacote de medidas fiscais do governo, a perspectiva é de que o cenário pode se prolongar e até mesmo ficar ainda mais negativo.

O Ibovespa e as Small Caps registram desempenhos negativos no mês, no ano e no acumulado dos últimos 12 meses.

Já o dólar encerrou novembro em R$ 6,0535, o maior valor nominal da história. No ano, a moeda norte-americana acumula alta de 25,04%. “Isso coloca o dólar como um dos protagonistas do ano, registrando a maior valorização desde 2020”, diz Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta.

Assim como o dólar, o bitcoin é outro ativo com valorização de destaque. Em novembro, a criptomoeda subiu 43,87%, acumulando alta de 211,13% em 12 meses.

O ouro, apesar da queda de 3,07% em novembro, registra alta de 29,06% no ano. E o BDRX (índice de BDRs) acumulou valorização de 8,32% no mês e 67,66% em 12 meses.

Por fim, o IFIX, índice dos fundos imobiliários, registrou queda de 2,11% em novembro. No ano, acumula perdas de 5,26%.

Desempenho das aplicações em novembro (em %)

 

Desempenho das aplicações em 2024 até novembro (em %)

 

Desempenho das aplicações em 12 meses até novembro de 2024 (em %)

 

Horizonte desafiador

O pacote de medida de contenção de gastos anunciado pelo governo prevê a economia de R$ 71,9 bilhões entre 2025 e 2026, com impacto de R$ 327 bilhões até 2030. Com ele, foi apresentada ainda uma mudança no Imposto de Renda. A partir de 2026, quem tiver renda mensal até R$ 5 mil está isento do pagamento de IR, e, para aqueles com renda maior que R$ 50 mil, terá uma alíquota efetiva mínima de até 10% e incidirá sobre todos os rendimentos, incluindo aluguéis e dividendos.

O mercado reagiu mal às novidades. Primeiro por que consideraram o pacote “tímido” e “insuficiente”, com dúvidas de como as medidas serão concretizadas, como será o trâmite junto ao Congresso e se, de fato, a estratégia irá garantir o equilíbrio das contas públicas, apontando até mesmo que as contas do governo tem uma soma maior do que de fato estão projetando.

O impacto foi imediato. Na quinta-feira, 28, quando o governo apresentou mais detalhes sobre o pacote anunciado na noite anterior, o dólar disparou para a marca de R$ 6 pela primeira vez desde o início de sua circulação, em 1994.

Com um risco fiscal que não foi atenuado, o mercado também começa a revisar expectativas para os juros, especialmente considerando que o anúncio desta semana é uma nova variável a ser lidada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima semana.  Nesse contexto, o comitê poderia tomar uma decisão ainda mais austera – hawkish, como chama o mercado.

Soma-se a isso a taxa de desemprego em queda e atingindo mínimas históricas, conforme divulgação na sexta-feira, 29, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Apesar da boa notícia, um mercado de trabalho aquecido – ou forte, no jargão do mercado –  reforça a expectativa de que os juros terão que subir ainda mais. Alguns bancos já projetam uma alta de até 1 ponto percentual, o que levaria a Selic para 12,25% ao ano.

“Isso tudo seria motivo de comemoração – e de fato é uma ótima notícia – mas como tenho apontado há algum tempo o mercado está de tal forma que ‘a notícia ruim é que está bom’, ou seja, melhoras na atividade real são contabilizadas como pressões inflacionárias difusas que por sua vez exigem mais juros”, afirma o economista André Perfeito.