16/03/2005 - 7:00
O estilista Ralph Lauren, aos 65 anos, é um mito no mundo da moda americana. Reputado pelo bom gosto, ele transpôs a elegância de suas roupas para dezenas de produtos como móveis, cosméticos, moda íntima e acessórios para cama, mesa e banho. Ergueu um império que fatura cerca de US$ 4,8 bilhões por ano. Desde a semana passada, suas preciosidades desfilam no Museum of Fine Arts, de Boston.
São 16 modelos espalhados por 3,4 mil metros quadrados de passarela. Perfilados, um ao lado do outro, retratam fielmente a história da moda. Cada um, em seu tempo, tornou-se referência entre os que admiram o luxo, sinônimo de status. Mas atenção, não são feitos de tecido. As peças atendem por nomes facilmente identificáveis: Ferrari, Mercedes, Jaguar, Bugatti. Fazem parte, em cima de quatro rodas, da coleção particular do estilista e compõem uma magnífica exposição, ?Velocidade, Estilo e Beleza ? Os carros da Coleção Ralph Lauren?.
Cada biela, pistão ou virabrequim dos automóveis tem uma nobre história a contar ? retratam a um só tempo o desenvolvimento da tecnologia e da estética. Por isso, para vê-los, o museu cobra uma entrada de US$ 20 por pessoa. ?Esta exibição é espetacular?, diz Malcolm Rogers, diretor do Museum of Fine Arts. ?Os carros são obras de arte e os seus designers, artistas?. Entre as relíquias apresentadas está um Bugatti 57SC Atlantic Coupê, um dos últimos dois exemplares existentes no planeta. Há também uma Mercedes-Benz Count Trossi SSK, de 1930, cujo valor estimado é de US$ 4 milhões. ?E a cada ano que passa o preço sobe ainda mais?, diz Og Pozzoli, um dos maiores colecionadores de carros antigos do Brasil. ?Somente em leilões descobre-se o verdadeiro valor de carros desse gênero?, diz Roberto Suga, diretor da Federação Brasileira de Veículos Antigos.
O que faz destes veículos peças únicas é um conjunto de fatores que atrai fãs no mundo inteiro. Todos exemplares da mostra foram produzidos na Europa, de forma artesanal e em quantidades reduzidas. É o caso da Ferrari GTO 250, de 1962. Amante do automobilismo, Ralph Lauren é uma das 39 pessoas a ter um exemplar como este. O carro é descrito pelos especialistas como um mito. Certa vez, o piloto inglês Stirling Moss saiu-se com essa: ?A GTO é a apoteose das Ferraris de motor dianteiro, uma jóia na história do automóvel, atemporal como um Botticelli?. Compará-la ao mestre italiano do Renascimento Botticelli pode ser exagerado, mas, na ponta do lápis, é paralelo adequado: em 1990, em um leilão realizado em Monte Carlo, um colecionador sueco, milionário do setor de imóveis, não hesitou um segundo ao oferecer assustadores US$ 10,5 milhões pelo veículo.
Isso mostra o fascínio que os carros causam em colecionadores desse porte. E prova também que, para Ralph Lauren, os modelos de quatro rodas desfilam com muito mais elegância nas passarelas do que mulheres esbeltas.