14/02/2014 - 6:30
A velocidade média de conexão à internet brasileira é de 2,7 megabits por segundo (Mbps), de acordo com um estudo da companhia americana Akamai. Para saber o que isso significa, basta dizer que o Brasil ocupa a 84ª posição em um ranking que avalia 140 países. Quem acessa a web na Coreia do Sul, que lidera essa pesquisa, tem à sua disposição uma conexão quase dez vezes mais rápida. Mas existe uma elite de cerca de 300 mil brasileiros que acessa à internet com taxas de transmissão que podem chegar até 500 Mbps. Com um download nesse ritmo é possível baixar uma música em MP3 com boa qualidade de gravação em tempo real. É clicar e pronto, a música já está no seu computador.
The flash: a NET, de Márcio Carvalho, oferece a maior velocidade de banda
larga por fibra atualmente, de 500 Mbps
Um filme de alta definição demoraria poucos segundos para ser baixado ? é menos que o tempo de ir até a geladeira para pegar um suco. Embora ainda restrita a poucos consumidores, especialmente aos dos grandes centros urbanos do Brasil, a ultrabanda larga movimenta os bastidores de todas as grandes empresas de telefonia e operadoras de tevê por assinatura. É fácil de entender as razões. Quem conseguir entrar na casa desses clientes terá a porta aberta para oferecer uma série de outros serviços. Além da internet de alta velocidade, poderá vender telefone fixo e canais de televisão a cabo.
Isso só é possível graças à tecnologia de fibra óptica, filamento longo e fino feito de vidro muito puro, com diâmetro de um fio de cabelo humano. Ela é usada para transmitir sinais de luz ao longo de grandes distâncias. Comparada ao tradicional cabo de cobre, ela sofre menor degradação do sinal e permite atingir altas velocidades de transmissão de dados. Por isso, é ideal para a transmissão de dados em altíssima velocidade. ?O crescente consumo de vídeo pela banda larga e os múltiplos dispositivos estão fazendo a velocidade aumentar cada vez mais?, afirma Márcio Carvalho, diretor de marketing da NET, que atualmente tem a oferta de maior velocidade do Brasil (confira quadro “Sem ilusão de ótica”).
Como é tradição das novidades desse segmento, os grandes centros urbanos foram os primeiros a serem atendidos ? São Paulo e Rio de Janeiro, o ?filé-mignon? do mercado brasileiro, são as únicas cidades onde as quatro empresas estão presentes. O plano é expandir paulatinamente a outras capitais. As operadoras não divulgam datas, mas os próximos alvos, ainda neste ano, são as cidades das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, além das capitais Recife, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Porto Alegre. Quem sai com uma vantagem nessa corrida é a GVT, controlada pelo grupo francês Vivendi.
A empresa, que nasceu em 2000 com forte atuação no Sul do Brasil, já aposta na fibra desde seu surgimento. Depois de começar a oferecer o pacote de internet, de telefone fixo e de tevê há dois anos, a ideia é acrescentar uma solução de celular ao pacote. ?Vamos lançar um produto que vai permitir carregar a voz fixa por um aplicativo no celular?, afirma Daniel Neiva, vice-presidente de vendas e marketing da GVT. O mercado está em franca expansão. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) calculou um aumento de 2,5 vezes no número de conexões por fibra até a casa do cliente entre dezembro de 2013 e o mesmo mês do ano anterior (veja quadro “Sem ilusão de ótica”).
Para analistas, atender a essa demanda é urgente. ?Há cinco anos você tinha o PC da casa, onde a pessoa fazia um uso moderado da rede?, afirma Eduardo Neger, presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet). ?Hoje o ambiente doméstico ganha cada vez mais aparelhos que usam a internet.? Metade das tevês ofertadas nas lojas de eletrodomésticos, por exemplo, são Smart TVs com capacidade de baixar vídeo em alta definição. Isso sem contar a internet das coisas, uma das grandes apostas do mercado. Dentro desse conceito, aparelhos domésticos, como geladeiras e cafeteiras, fazem uso da web para notificar os usuários.
Junto e misturado: Daniel Neiva, da GVT, oferecerá um aplicativo de celular
que aciona o telefone fixo
Ou seja, mais peso na conexão, que a fibra tem capacidade de atender por um bom tempo. ?Dizem que a fibra é à prova de futuro?, afirma João Bruder, analista da consultoria americana especializada em tecnologia IDC. A japonesa NEC e a americana Corning, por exemplo, anunciaram no começo do ano passado ter conseguido fazer uma transmissão de dados de 1,05 petabyte em uma distância de 52 km. O número é tão desproporcional, tão fora de escala, que basta dizer que aplicação alguma de hoje conseguiria tirar proveito dessa velocidade. Voltando ao pragmatismo dos dias atuais, a fibra também alivia a demanda nas redes 3G e 4G das operadoras móveis.
Smartphones e tablets demandam internet praticamente o tempo todo, mesmo em modo de descanso. ?Os usuários entenderam que fibra é convergente com a internet móvel?, afirma Pedro Svacina, diretor comercial da Tim Fiber. Em 2011, a operadora controlada pela Telecom Italia pagou R$ 1,6 bilhão pela AES Atimus. Seu principal ativo: uma extensa rede de fibra óptica. A empresa conta atualmente com 64 mil clientes de fibra e pretende fechar o ano com 200 mil. A partir deste ano, a subsidiária brasileira da Telecom Italia tem como meta oferecer televisão por meio da fibra, porém, sem a necessidade de combo. ?Nossas pesquisas indicam que os clientes não gostam disso?, diz Svacina.
Se a internet de 2,7 Mbps do Brasil já revolucionou um sem-número de segmentos de negócios, certamente a fibra vai acelerar essas mudanças. Será possível assistir a isso em uma espécie de laboratório que está sendo montado pela Vivo em Águas de São Pedro, a 185 quilômetros de São Paulo. ?Até meados de abril, a cidade inteira terá conexões de 50 Mbps para cima?, diz Antonio Carlos Valente, CEO da Vivo, que fechou o ano passado oferecendo a fibra a cerca de 2 milhões de lares. A cidade de três mil habitantes deve estar completamente digitalizada em abril. O investimento é de R$ 2 milhões. Quem diria que o segundo menor município brasileiro em extensão territorial assumiria a dianteira da tecnologia?
Colaborou: Diego Marcel