O empresário Eike Batista, um dos grandes barões do setor de mineração e dono de uma fortuna estimada em US$ 1 bilhão, é um sujeito afeito a desafios. Aos 25 anos, já tinha conquistado US$ 6 milhões. Tinha tudo para parar de trabalhar. Não parou. Em vez disso, aplicou quase todo o dinheiro na exploração de uma jazida de ouro em Mato Grosso e multiplicou seus ganhos. Hoje, seus tentáculos vão desde o setor de mineração às usinas termoelétricas. O próximo desafio do empresário, atenção, passa longe do mundo dos negócios. Eike comanda um projeto que, dando tudo certo, poderá pô-lo no Guinness Book, o livro dos recordes. Trata-se de completar a travessia Santos-Rio, pelo mar, em uma lancha offshore, uma espécie de Fórmula-1 das águas, em menos de 3h29m51s, o recorde atual. Ele pertence ao empresário carioca Paulo Renha, dono do estaleiro Real Power Boats, com a lancha Go Pulga. Para vencer a marca, cobiçada entre os amantes da adrenalina no mar, Eike mandou construir uma embarcação, a Spirit of Brazil, nos Estados Unidos, a um custo estimado pelo mercado em US$ 1,5 milhão. O resultado é uma lancha de 46 pés (o equivalente a 14 metros), cinco toneladas, três mil cavalos de potência e, como o próprio Eike diz em tom de brincadeira, ?uma mula dirigindo?. ?Pilotar esse negócio é dificílimo?, disse a DINHEIRO. ?É como montar um touro?. Não faltará, é certo, experiência para bater o recorde na embarcação capaz de atingir 240 km/h.

Eike já foi campeão mundial de motonáutica offshore em 1990. É, portanto, conhecido e respeitado no mundo da velocidade marítima. Reputação que pode conquistar mais prestígio se o empresário vencer o desafio dos mares. A data da prova está marcada para a semana de 15 de outubro. O dia certo em que ele acelerará nas águas dependerá das condições meteorológicas. Ao seu lado, estarão como navegadores o apresentador de televisão Luciano Huck, o empresário Paulo Melo e Ernani Paciornik, que organiza o São Paulo Boat Show, o maior evento náutico da América Latina, de 27 de outubro a 1 de novembro. ?Se batermos o recorde, a lancha será apresentada no evento?, diz Paciornik. Ao observar as características da embarcação e a julgar pela comprovada competência do piloto, parece tarefa fácil. Não é. A modalidade é uma das mais perigosas do mundo.

Os obstáculos no trajeto de 407 quilômetros que começa na Ilha da Moela, em Santos, e termina na Baía da Guanabara, no Rio, são muitos. Diferentemente de uma pista de corrida de automóveis, não há um percurso com retas e curvas definidas, o mar muda constantemente. Além disso, o piloto tem de desviar de ondas, tocos de árvores, redes de pesca e cabos. Há, contudo, uma pequena ajuda. Um diretor de provas da Federação Brasileira de Vela e Motor, o órgão que cronometra o tempo, acompanha a embarcação do início ao fim a bordo de helicóptero. Nos trechos onde há lixo e outros objetos que possam causar acidentes, o helicóptero voa mais baixo para avisar o piloto. A contagem do tempo não pára. ?Se o barco quebra, o piloto tenta em outra ocasião?, diz Nelson Bordallo, diretor da Federação Brasileira de Vela e Motor. O atual dono do recorde, Paulo Renha, já passou por essa situação.

Em 2002, quando tentou quebrar o recorde de Wallace Franz de 5h38m23s deste percurso entre Santos e Rio, mantido por 28 anos, a lancha de Renha parou faltando pouco para a prova terminar. Mas em uma segunda tentativa, ele superou o tempo anterior marcando 4h40m11s. Em maio deste ano, voltou a superar a própria marca fechando em 3h29m51s. Aficionado por velocidade, Renha se vangloria de ter atingido o melhor tempo com uma embarcação nacional. ?Projetei e construí a lancha?, diz Paulo Renha. A Go Pulga, cabe salientar, é menor e menos potente que a lancha de Eike. Ela tem 26 pés, o equivalente a 7.8 metros, e dois motores de 376 cavalos de potência que proporcionam uma velocidade de 190 km/h. Induzido a falar sobre a concorrência, Renha dispara: ?O Eike tem uma máquina mais potente do que a minha?, diz ele. ?Mas o recorde só é batido quando o cronômetro pára?, alfineta. Eike, por sua vez, mostra que não está para brincadeira. ?Quando o Batista vem é melhor sair da frente?, brinca Eike, ao referir-se a si mesmo na terceira pessoa do singular. ?Quem me conhece sabe que é assim no mar e nos negócios?.