22/02/2006 - 7:00
A Petrobras está se preparando para levantar um gigantesco canteiro de obras. Trata-se do alcoolduto, a maior incursão da empresa no setor que tem despertado a cobiça do mundo inteiro e trazido muito dinheiro para o Brasil. Creditada como a maior obra de engenharia da estatal desde 1992, quando foi construído o gasoduto Brasil-Bolívia, o alcoolduto levará a produção de etanol de Senador Canedo, em Goiás, para a refinaria de Paulínia, em São Paulo, e de lá para o porto de São Sebastião. Nessa obra, tudo é grandioso e a comparação com o gasoduto binacional não é exagerada. Quando estiver pronto, o que deve acontecer em dois anos, terão sido utilizados 180 mil toneladas de tubos de aço carbono ao longo dos 1,3 mil quilômetros de extensão. Além disso, os 10 mil homens contratados devem levantar várias estações de compressão e medição de vazão no trecho. O custo da obra, de R$ 500 milhões, ficará a cargo da Transpetro, subsidiária da Petrobras e o duto servirá exclusivamente à exportação. Serão 4 bilhões de litros de álcool que poderão ser enviados diretamente do produtor para o mercado externo. ?Estamos atentos à movimentação internacional?, explica José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras. ?O mercado quer uma nova fonte de energia e nós temos como garantir isso?.
Responsável por 4,5% da produção nacional de álcool, Goiás vem incentivando o plantio da cana ? existem 14 usinas e outras seis estão em construção. Todas elas contam com a decisão do governo estadual de reduzir a alíquota do ICMS de 26% para 15%. ?No médio prazo poderemos ampliar o número de usinas para 50?, disse à DINHEIRO o governador Marconi Perillo. ?Temos 100 mil hectares de área plantada que podem chegar a 250 mil nos próximos anos?. À produção goiana deve-se somar ainda a paulista. Os técnicos da Petrobras estudam a viabilidade da construção de um ramal até Ribeirão Preto, região que concentra 80% da produção nacional do combustível. ?É uma obra gigantesca que nos fortalecerá no mercado externo?, avalia Igor Montenegro, do Sindicato das Indústrias de Álcool de Goiás, que prevê grandes economias com o frete. O duto reduzirá o custo de transporte de R$ 0,04 centavos por litro para RS$ 0,01 centavo ? uma economia de R$ 900 por cada caminhão de 30 mil litros que deixará de circular nas rodovias. ?Imagine esse desconto em uma frota de 200 caminhões??, aponta Montenegro.
A movimentação da Petrobras no campo do álcool coincide com a procura cada vez maior no exterior por uma nova matriz energética. No ano passado, a estatal iniciou as exportações de álcool com um volume de 50 milhões de litros para a Venezuela. Mas é no mercado japonês que está o grande filão. A empresa assinou, em dezembro passado, um acordo com a estatal Nippon Alcohol Hanbai para criar uma empresa que distribua no Japão aproximadamente 1,8 bilhão de litros anuais de etanol. O combustível tem também atiçado a curiosidade de quem não tem nada a ver com o setor. É o caso de Larry Page e Sergei Brin, donos do Google. Semanas atrás eles estiveram em Piracicaba, interior de São Paulo, para conhecer a Cosan e ver de perto a tecnologia nacional da qual haviam ouvido falar no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Mas ninguém foi tão incisivo como Bill Gates. Emissários da Pacific Ethanol, emergente americana no setor de combustíveis que tem como maior acionista o dono da Microsoft, já estão no País pesquisando a compra de usinas nacionais e a construção de destilarias de álcool. Um analista de banco a par da incursão da Pacific afirma que a intenção é investir US$ 200 milhões. O objetivo é criar um canal permanente de exportação para os Estados Unidos.
R$ 500 milhões é o valor que será investido para transportar o etanol de Goiás para o porto de São Sebastião