Crise asmática de madrugada e bombinha vazia ou esquecida em algum lugar. Essa combinação de tirar o fôlego, que atingia constantemente o engenheiro aeronáutico Jhonata Emerick, 32 anos, o inspirou a empreender. Em julho do ano passado, ele criou o 99Motos, aplicativo que funciona de forma similar aos usados para chamar táxis. No entanto, em vez de taxistas, o aplicativo encontra motoboys, que são contratados para fazer entregas ou buscar, como no caso de Emerick, a bombinha salvadora em uma farmácia aberta 24 horas. Seu aplicativo já conta com dois mil motoboys cadastrados na Grande São Paulo e foi comprado pelo fundo de investimento Incube, desenvolvedor do aplicativo Vá de Táxi, por R$ 3 milhões, há dois meses.

Desde então, as soluções foram unidas dentro de uma nova empresa, a Movmov.it. “Queremos facilitar os deslocamentos”, diz Emerick, CEO da operação e um autoconfesso barbeiro no trânsito, o que o faz dependente de seu próprio serviço. O 99Motos faz parte de uma categoria de aplicativos que estão ajudando os usuários a enfrentar as dificuldades de mobilidade urbana das grandes metrópoles brasileiras – exatamente o que levou milhões de pessoas às ruas nas manifestações de junho do ano passado nas principais cidades brasileiras (para quem não se lembra, os manifestantes eram convocados pelas redes sociais com o tema #vemprarua).

Esse problema não é exclusivo do Brasil. Segundo o ConsumerLab, centro de estudos da fabricante sueca de equipamentos de telecomunicações Ericsson, a mobilidade é a principal fonte de insatisfação dos habitantes de cinco cidades pesquisadas, incluindo São Paulo. No total, 47% dos proprietários de smartphones se disseram interessados em soluções digitais para ajudar nos deslocamentos no trânsito. O recado foi assimilado pelas empresas de tecnologia. Muitas delas oferecem meios práticos para que a união das pessoas efetivamente melhore o trânsito, no estilo de crowdsourcing (quando muitos usuários são fontes de informação) para atualizar a situação do tráfego em tempo real.

O aplicativo israelense Waze, fundado em 2008 e comprado pelo Google por US$ 1 bilhão há pouco mais de um ano, faz justamente isso: transforma os motoristas em membros de uma grande rede social. A empresa relata ter mais de 50 milhões de usuários. Por meio dele é possível apontar, por exemplo, onde há um acidente ou obras na pista através de comandos de voz. O Moovit, aplicativo da também israelense Tranzmate, quer aplicar a lógica do Waze para o transporte público. “Israel tem seis milhões de habitantes, todo mundo se conhece lá e é comum a troca de informação”, afirma Pedro Palhares, diretor da Tranzmate no Brasil, lugar onde está a maioria dos nove milhões de usuários do serviço.

O programa ajuda a escolher qual a forma mais rápida de se locomover através de ônibus, de metrô ou de trem, com base nas informações dos próprios usuários. No fim do ano passado, a empresa recebeu um aporte de US$ 28 milhões, liderado pela Sequoia, um dos principais fundos de venture capital do Vale do Silício, nos Estados Unidos, que tem em seu portfólio investimentos na Apple, no Instagram e no LinkedIn. A expectativa do Moovit é gerar receita com serviços de marketing geolocalizado, de big data e por meio de pagamentos. De acordo com Palhares, o aplicativo já conta com tecnologia para substituir os cartões de transporte público, como o Bilhete Único da capital paulista.

O desafio de fechar as contas no azul não é exclusividade do Moovit. É raro encontrar empresa desse ramo que já tenha atingido o ponto de equilíbrio financeiro. Mesmo o polêmico Uber, que transforma carros comuns em táxi, avaliado em US$ 18,2 bilhões, não consegue ser rentável. Mas, como reza a cartilha das startups, agora é a hora de conquistar usuários. “As empresas desse segmento ainda estão no meio do filme, a história não acabou”, afirma Paulo Humberg, CEO do fundo A5, que tem em seu portfólio a Colab.re, rede social criada em Recife para apontar problemas nas cidades. Um dos segmentos mais populares é o de transporte.

Desde abril, o Colab.re é o canal oficial de relacionamento da prefeitura de Curitiba com a população. “O setor é importante, mas é preciso de um pouco de paciência até os resultados surgirem”, diz Humberg. Em cidades como a capital do Paraná, as bicicletas aparecem como uma das soluções para a mobilidade urbana. Uma espécie de moda nas administrações municipais é replicar o sistema automatizado de compartilhamento de bicicletas de Paris, o Vélib, criado em 2007. É possível encontrar as bikes por meio de aplicativos e até mesmo fazer o pagamento para a retirada da bicicleta, desde que o ponto de retirada tenha a tecnologia para isso.

No Brasil, uma das empresas que oferecem esse serviço é a Comparti-bike, que também cuida de estacionamentos de bicicletas. Desde agosto, a empresa é responsável por um estacionamento no Largo da Batata, em São Paulo, feito com o patrocínio do banco Itaú. “Esperamos que a prefeitura possa ver o compartilhamento de bicicletas como alternativa de investimento”, afirma Pedro Monteiro, sócio do Compartibike.

Outra questão problemática são os caminhões, que em cerca de 40% dos casos trafegam vazios por falta de serviço no retorno. Pensando nisso, Carlos Mira deixou uma transportadora tradicional para fundar o Truckpad, site dedicado a unir caminhoneiros e cargas. “Quero formar uma comunidade, dar um motivo para que o Truckpad seja visto uma vez por dia”, diz Mira. Da próxima vez que for para a rua, não se esqueça de levar o celular para chegar mais rápido.