Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O governo poderá recomendar que a Petrobras suspenda em definitivo as vendas de alguns ativos que estavam em curso, após concluir uma análise o sobre os desinvestimentos da empresa, mas decisão final será da petroleira, afirmou nesta quinta-feira o presidente da companhia, Jean Paul Prates.

A empresa informou na quarta-feira que havia recebido um ofício do Ministério de Minas e Energia solicitando a suspensão das alienações de ativos por 90 dias, em razão da reavaliação da Política Energética Nacional, que está sendo reavaliada. “Está tudo suspenso para análise”, afirmou Prates, após participar de coletiva de imprensa sobre os planos futuros para a empresa.

“Ele (o governo) pode recomendar (a suspensão definitiva da venda de alguns ativos), e aí a gente vai definir também.” Prates também comentou que os desinvestimentos de alguns projetos podem dar errado e destacou que “tem gente que já perdeu o prazo”.

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Ele não especificou quais ativos seriam foco de suspensão de venda definitiva, mas a Petrobras já realizou grandes desinvestimentos nos últimos anos.

Durante a coletiva, Prates defendeu um contato mais próximo entre a Petrobras e o governo federal.

O presidente tem participado de diversas reuniões com representantes do governo federal, em Brasília, e afirmou ter tido conversas sobre o adiamento da reoneração de combustíveis no início do ano.

“Empresa estatal tem todo o direito de conversar com presidente da República quando ele quiser… Não há problema em conversar com Lula, com ministro Alexandre (Silveira), com (Fernando) Haddad, quando eu quiser, porque são os acionistas majoritários da Petrobras”, afirmou Prates.

“Quero uma nova era e que isso não seja visto como algo suspeito”, afirmou Prates.

PRÓXIMOS MOVIMENTOS

O executivo pontuou ainda que algumas decisões importantes sobre o futuro da companhia, como a reavaliação da política de dividendos e de preços de combustíveis, vão depender da posse da nova gestão completa, incluindo diretores e conselheiros, que deverá ser concluída apenas após assembleia de acionistas em abril.

As incertezas sobre próximos passos da Petrobras afetaram as ações da companhia nesta quinta-feira, apesar da divulgação de lucro recorde em 2022 na véspera, assim como dividendos bilionários. As ações da petroleira fecharam em baixa e pressionaram o Ibovespa.

Por ora, Prates afirmou que foi orientado por Lula a cumprir as atuais regras da empresa, incluindo dividendos e preços. “Até para mudar a regra, cumpra a regra.”

Para a reformulação das estratégias, Prates reiterou sua posição de que a política de preços da empresa não seguirá mais a paridade de importação e que a empresa irá buscar sempre a melhor estratégia.

“Será uma nova política de preços olhando para o mercado nacional… PPI deixa de ser um único parâmetro, haverá mais de uma referência de acordo com as condições de mercado”, afirmou.

“Vamos disputar ponto a ponto cada mercado, com o melhor preço para a Petrobras e para seu cliente”, disse, detalhando que não há formula pronta a ser adotada.

Em relação a dividendos, ele pontuou que poderá buscar uma política que permita mais flexibilidade a cada trimestre, ao contrário de hoje, com uma fórmula calculada praticamente de forma automática.

“A gente vai rever esse processo todo, é claro. Ninguém pode fixar distribuindo 112% a 115% do lucro todo o ano e não pensar no futuro.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disparou nesta quinta-feira contra a distribuição de dividendos anunciada na véspera pela Petrobras, afirmando que a estatal investiu “quase nada” e que a petroleira deveria ser uma empresa de desenvolvimento para o país.

 

(Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier)

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