19/07/2006 - 7:00
DINHEIRO ? Como surgiu a parceria com o Carrefour?
GUILHERME PAULUS ? Foram seis meses de namoro e negociações. Mas, finalmente, assinamos o contrato. É o meu grande sonho, levaremos o turismo à gôndola do supermercado. Você pode comprar um pacote de turismo ao lado de onde se vende um pacote de macarrão. Dentro de 60 dias, estaremos em oito lojas do Carrefour e, até 2011, estaremos em 100 supermercados da rede. A agência deles venderá os nossos pacotes.
DINHEIRO ? Mas serão vendidos em uma gôndola?
PAULUS ? Isso mesmo. É um negócio inédito no mundo inteiro. O cliente verá os pacotes em oferta na gôndola e um funcionário o levará para a agência de turismo do Carrefour que fica no próprio supermercado.
DINHEIRO ? Qual é o potencial de negócio dessa parceria?
PAULUS ? Ainda não temos idéia, mas posso dizer que é muito grande. Em alguns hipermercados passam 20 mil pessoas por dia.
DINHEIRO ? A CVC pretende também levar esse mesmo conceito para as lojas do Carrefour na França?
PAULUS ? Ainda não há nada nesse sentido, mas o Carrefour tem 300 lojas na França. Essa aliança pode internacionalizar a CVC. O curioso é que esse acordo coincide com a abertura de uma loja nossa em Paris. Quem sabe não entramos nas lojas do Carrefour da França? O Jean Marc, presidente do Carrefour no Brasil, se pôs à disposição para abrir o mercado. Quando estiver pronto, iremos para a França para mostrar o conceito e faremos um grande evento.
DINHEIRO ? Quais outros negócios há no horizonte?
PAULUS ? Também estamos investindo R$ 80 milhões na construção de um resort em Aracaju. Ele está em uma área de um milhão de metros quadrados e terá 270 apartamentos com 50 bangalôs, sendo que 20 deles estarão dentro da água, nos moldes dos hotéis do Taiti. Vamos inaugurá-lo em 2007.
DINHEIRO ? E a expansão para o Exterior, como está?
PAULUS ? Temos lojas em Buenos Aires, Santiago e Montevidéu. E em setembro vamos inaugurar a loja de Paris, próximo à Champs-Elysées.
DINHEIRO ? O câmbio mais baixo tem feito o turismo interno cair?
PAULUS ? Não, as viagens nacionais ainda são mais baratas. O que mudou é o conceito de alta temporada no Brasil. Nem todo mundo tira férias em julho. Hoje, com as mulheres no mercado de trabalho, as férias não são mais programadas somente para julho. É muito mais pulverizado. Os hotéis ainda não atentaram a isso. Eles querem ganhar tudo em um único mês e aumentam os preços. Outro fator que fez a temporada de julho ser um pouco mais fraca foi a Copa do Mundo. Os televisores de plasma tiraram os nossos passageiros. As famílias compraram as telas e não foram viajar. Todo mundo ficou ansioso com o Brasil e esperou a Copa terminar.
DINHEIRO ? Quanto caiu em comparação com o mesmo período do ano passado?
PAULUS ? Caiu cerca de 20%. Mas não foi prejudicial a ponto de dizer que foi horrível. Depois do dia 9 de julho, a freqüência voltou ao normal. Brigamos muito com os hotéis e as companhias aéreas para eles não irem com muita sede ao pote, para que não cobrem tarifas de alta sazonalidade. A Gol, por exemplo, chega a vender passagem a R$ 25. É lógico que quando chega no limite a companhia passa a atingir outro patamar. Os hotéis deveriam trabalhar da mesma maneira. Para a operadora, que compra em grande quantidade, o preço tem que ser diferenciado. Para empresas que fazem eventos deveria ser mais caro. Elas exigem mais dos hotéis. Os executivos usam luz elétrica, fax e outros serviços. O turista não. Ele quase não fica no hotel, passa o dia fora.
DINHEIRO ? A CVC tem vendido até pacotes para o leste europeu. Esse é um movimento para alcançar um novo público?
PAULUS ? Não temos preconceito. É claro que estamos atentos ao mercado. Montamos a programação de acordo com o que os clientes pedem. Não invento nada. Sempre falo para os meus funcionários que a roda já foi inventada. Se o cliente quer Europa, vendemos Europa.
?Os executivos da Varig
conseguiram matar a galinha dos ovos de ouro?.
DINHEIRO ? Mas há na CVC uma área para atender esse público?
PAULUS ? Temos algumas lojas em shoppings para esse público mais seletivo. O cliente que vai viajar para a Europa exige um diálogo maior. Atendemos uma classe executiva, uma primeira classe, fazemos roteiros diferenciados para quem quiser.
DINHEIRO ? As lojas em shoppings são lucrativas?
PAULUS ? Muito. Começamos, em 1999, no shopping Plaza Sul. Era uma facilidade para o cliente. O shopping fica aberto das 10h até as 22h. Também tem a questão da segurança e do estacionamento. Os clientes começaram a elogiar e vi que esse era o caminho. Hoje temos mais de 100 lojas em shoppings e 60% dos clientes nunca haviam viajado com a CVC. As lojas também deram visibilidade para a marca.
DINHEIRO ? A CVC freta 150 aviões por semana e depende muito da aviação. Como o senhor observa a crise da Varig?
PAULUS ? O impacto é péssimo. Poderíamos vender mais pacotes internacionais do que vendemos hoje. A Varig voa precariamente e não posso expor os meus clientes. Não vou vender um pacote em que o cliente tenha de voltar com a Varig. Realmente, conseguiram matar a galinha dos ovos de ouro.
DINHEIRO ? Como?
PAULUS ? Isso aconteceu em virtude de má administração, da constante troca de diretores e de brigas na Fundação Rubem Berta. Perderam muito dinheiro com as mudanças de moedas, de governos e por uma série de coisas que aconteceram a respeito das quais não tomaram posição correta. Não vou dizer o que deveria ter sido feito porque eu não estava lá. Mas na CVC eu sei como administro e procuro entender como está o mundo.
DINHEIRO: O senhor acha que o governo deveria salvar a Varig?
PAULUS ? Acho que o governo já interveio bastante. Nunca ajudou tanto uma empresa aérea. O governo não ajudou nem a TransBrasil nem a Vasp. Não sei porque o seu Wagner (Wagner Canhedo, o dono da Vasp) está quieto. Deveria brigar. A Vasp não poderia ter acabado como acabou.
DINHEIRO ? Não é um problema ficar nas mãos de duas companhias como a TAM e a Gol?
PAULUS ? É ruim para o mercado. Quanto mais companhias operam, maior a concorrência e maior a opção de compra. Mas hoje, para a CVC, não há preocupação porque podemos buscar aviões lá fora.
DINHEIRO ? A empresa vai comprar aviões?
PAULUS ? Temos que voar ainda este ano. A FG Linhas Aéreas, empresa que abri, tem permissão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para voar até dezembro.
DINHEIRO ? Quais aviões seriam comprados?
PAULUS ? Estamos vendo o 757, da Boeing, e o A321, da Airbus. Não descartamos o Focker. Vamos comprar duas aeronaves usadas que supririam 15% das nossas necessidades. Mas a meta é chegar a dez aviões até 2010, todos para charter.
DINHEIRO ? Há caixa para isso?
PAULUS ? Sim. No primeiro ano, estamos nos capitalizando com US$ 15 milhões a US$ 20 milhões.
DINHEIRO ? O que fez da CVC uma das dez maiores operadoras do mundo, agora até com aviões próprios?
PAULUS ? Foram as grandes sacadas. Na década de 70, na época dos depósitos compulsórios das passagens para o Exterior, quando os turistas eram obrigados a depositar US$ 1 mil no Banco do Brasil, o mercado entrou em crise. Começamos, então, a vender pacotes rodoviários para as empresas do ABC paulista. Também vendemos roteiros especiais para a turma da terceira idade. Em 1987, procurei a Vasp e fiz uma proposta para eles. Disse que compraria 100 mil passagens se eles reduzissem o preço. Fechei o negócio pela metade do valor. Foi o maior negócio da aviação fechado em terra firme. Vendemos tudo em sete meses. Fazíamos um pacote de cinco dias para Salvador, com passagem aérea, por um preço menor do que a passagem cheia. Esse negócio saiu até no jornal francês Le Monde.
DINHEIRO ? Com a desvalorização cambial, muitas operadoras quebraram. Como a CVC sobreviveu?
PAULUS ? Nós não colocávamos os ovos em uma cesta só. Mantivemos o setor nacional que sempre foi o mais barato. A diferença de preço é muito grande. Não é todo mundo que pode viajar para Paris. O turismo rodoviário respondia por 50% das nossas vendas, os pacotes aéreos nacionais ficavam com 30% e os 20% restantes eram de viagens internacionais.
DINHEIRO ? Como está hoje?
PAULUS ? Hoje, os pacotes aéreos no Brasil respondem por 60%, as viagens internacionais ficam com 25% e as rodoviárias com 15%. Vamos chegar no fim do ano com 180 lojas, temos 800 funcionários e 7.600 agentes de viagem credenciados. Temos uma média de 150 vôos fretados por semana. Somos a maior fretadora de vôos do mundo.