O rei dos zulus, Goodwill Zwelithini, uma figura venerada mas também controversa na África do Sul, morreu nesta sexta-feira (12) aos 72 anos, depois de passar várias semanas hospitalizado por complicações relacionadas com a diabetes.

Este rei sem poder na África do Sul atual exercia, no entanto, uma grande influência sobre milhões de pessoas desta etnia, a mais importante do país, e tinha um papel espiritual. Os líderes tradicionais são reconhecidos pela Constituição e continuam cumprindo um papel simbólico no país.

“É com grande dor que tenho que informar à nação o falecimento de Sua Majestade, o rei Goodwill Zwelithini (…) rei da nação zulu”, afirma um comunicado assinado por Mangosuthu Buthelezi, um influente político veterano e também um príncipe zulu.

“Tragicamente, quando estava hospitalizado, a saúde de Sua Majestade piorou, e ele morreu na manhã desta sexta-feira”, completa o texto.

O monarca havia sido hospitalizado no mês passado.

“Ele foi um símbolo importante da história, da cultura e do patrimônio”, afirmou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.

Nascido em Nongoma, uma pequena cidade da província de KwaZulu Natal (nordeste), Goodwill Zwelithini subiu ao trono com 23 anos, após a morte de seu pai.

Em 1971, durante o regime do Apartheid, ele se tornou o 8º rei zulu e um dos soberanos tradicionais mais conhecidos da África do Sul.

Antes das primeiras eleições democráticas na África do Sul, em 1994, Goodwill Zwelithini provocou grande preocupação, sobretudo, dentro do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), o partido de Nelson Mandela, ao reunir milhares de homens armados nas ruas de Johannesburgo.

Muitos eram simpatizantes do partido nacionalista zulu Inkatha Freedom Party (IFP). Um tiroteio diante da sede do ANC terminou com 42 mortos e 250 feridos.

Nos últimos anos, o rei multiplicou as declarações de caráter xenófobo. Ele chamou os migrantes africanos de “formigas” e “piolhos”, os quais também acusou de contribuírem para o “aumento da anarquia” no país.

As declarações provocaram grande polêmica no exterior. O rei, sempre com sua tradicional vestimenta de peles, foi acusado de estimular uma onda de ataques racistas, que provocaram sete mortes e deixaram milhares de deslocados.

Descendente do todo-poderoso Shaka, que dirigiu a nação zulu até seu assassinato em 1828, Goodwill Zwelithini restabeleceu nos anos 1980 o Umhlanga, um ritual anual de oito dias em que jovens seminuas cortam juncos e dançam ao redor da residência real. Apenas jovens virgens podem participar, pois é proibido que uma mulher “impura” corte a cana.

Recentemente, mostrou-se favorável aos castigos físicos na escola e também afirmou que a homossexualidade “não era aceitável”.

Goodwill Zwelithini levou uma vida de luxo entre vários palácios, com seis esposas e quase 30 descendentes, com uma renda anual paga pelo Estado de quase US$ 4 milhões.