28/04/2004 - 7:00
O vôo Miami?Milão mudou definitivamente o destino da jovem Allegra Versace. Naquele setembro de 1996, seu tio, o estilista Gianni Versace, saiu do aeroporto direto para um cartório, decidido a mudar seu testamento, escrito seis anos antes. Foi o que fez. E surpreendeu a família ao deixar, poucos meses antes de morrer, metade do seu império para Allegra, na época com apenas 11 anos. No próximo dia 30 de junho, a herdeira ? filha de Donatella Versace e do ex-modelo Paul Beck ? completa 18 anos. A partir dessa data a garota estará livre para fazer o que bem entender com as suas ações, avaliadas em US$ 100 milhões. O problema: Allegra não faz questão de trabalhar na companhia e pode até vender a sua parte para terceiros.
O que ela quer mesmo é ser atriz. Se a garota passar adiante
sua parte no império, a decisão poderá colocar um fim na história
de uma das maiores dinastias do mundo da moda. ?Não haverá nenhuma mudança da noite para o dia. A família está tomando
todo cuidado para que a decisão de Allegra não cause traumas?,
disse à DINHEIRO Nicoló Moschini, diretor da Barabino &
Partners, consultoria financeira da Versace.
Allegra e Gianni viviam uma espécie de conto de fadas. O estilista costumava dizer que a sobrinha era a extensão de sua alma e se referia a ela como Princesa. A garota chamava-o de Mago. Na infância, ela passava os fins de semana na mansão do tio, às margens do lago Como, nos Alpes italianos. Brincava nos jardins da casa ou devorava os livros que Gianni indicava. Sempre que podia, Allegra o acompanhava nos desfiles. Apesar da diferença de idade, ela era a confidente do estilista. A paixão entre eles era tanta que na última vez em que Gianni falou com a família ( na manhã de 15 de julho de 1997, uma hora antes de levar um tiro na nuca), fez um pedido: ver Allegra. Dizem as más línguas que o único choro sincero no enterro de Gianni era da menina.
INTIMIDADE Gianni e os sobrinhos Daniel e Allegra, na Itália. Apesar da diferença de idade, filha de Donatella
(à dir.) era a confidente do estilista
Os irmãos Versace, por outro lado, sempre viveram em pé de guerra. Santo, o homem que cuidava dos bens e administrava os negócios do clã, era crítico do consumismo exagerado de Gianni. ?Chega de Picassos?, dizia. Quando o estilista mudou o testamento em favor de Allegra, Santo chegou a afirmar que o irmão estava cansado e mudaria de idéia mais tarde. Com a morte do estilista, o conflito que já existia aumentou, trazendo perdas para a empresa. No último ano, as vendas da Versace caíram 17,5%, atingindo US$ 485 milhões. Donatella e Santo, donos da outra metade da companhia, tentam refinanciar uma dívida de US$ 144 milhões e encontrar um investidor. Grupos como Gucci e LMVH, dois dos maiores conglomerados de luxo do mundo, já foram apontados como possíveis compradores, mas ambos negam os rumores. A boa notícia: a empresa está prestes a conseguir dinheiro com bancos de Milão para quitar seus débitos. A ruim: a dupla pretende abrir mão de, no máximo, 30% da companhia, o que inviabilizaria qualquer acordo de compra. Em função das disputas de poder entre Donatella e Santo ? ela desenha as coleções e ele administra o grupo ?, os eventuais compradores só entrariam no negócio com a condição de assumir o controle acionário. É aí que entra Allegra. A herdeira é tida como solução para o impasse. Para o pesadelo de sua mãe, os futuros sócios poderiam adquirir o controle negociando diretamente com ela.
OVELHAS DESGARRADAS
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