16/11/2001 - 8:00
Quando assumiu o posto de presidente da Vésper, em 15 de maio último, o executivo Luiz Kaufmann sabia o tamanho do problema que teria pela frente. A empresa-espelho da telefonia fixa no Rio, São Paulo e outros 15 Estados estava sem rumo e praticamente asfixiada por um gigantesca dívida de US$ 1,3 bilhão. A baixa penetração no mercado aliado ao desinteresse de um dos sócios, a Bell Canada International (BCI), compunham um quadro com pouco espaço para manobras. No dia 15 de novembro, Kaufmann mostrou ao mercado que era possível virar o jogo. Graças a uma operação financeira, minuciosamente arquitetada por ele, o passivo foi reduzido para apenas US$ 100 milhões ? convertida em reais ? com prazo de quatro anos para amortização, sendo 75% da fatura vencendo no final do último ano. E mais: o executivo conseguiu também que os principais acionistas, Qualcomm e Velocom, injetassem dinheiro na empresa. Ao todo, entraram no caixa US$ 346 milhões. Uma parte foi usada para comprar, com um deságio superior a 40%, de acordo com Kaufmann, a dívida junto a fornecedores (Nortel Networks , Harris, Ericsson e Lucent). A outra fatia serviu para recapitalizar a Vésper, devolvendo-lhe o fôlego perdido na época em que se pensava ser possível disputar, de igual para igual, espaço no mercado com as gigantes Telefonica e Telemar. ?A Vésper foi construída em um ambiente de euforia, que misturava a explosão da Internet com a existência de capitais abundantes para financiar investimentos no segmento de telefonia. Isso acabou?, argumenta Kaufmann. Uma boa mostra disso, diz, é que a empresa possui uma rede com capacidade para atender 2 milhões de usuários, número quatro vezes maior que o total de assinantes: 500 mil.
Celular. O projeto da nova Vésper, desenhado por Kaufmann, prevê centrar o foco em produtos diferenciados para consumidores e o mercado corporativo. Para atingir tal objetivo ele pretende investir US$ 800 milhões neste ano. ?Vamos triplicar o número de usuários para 1,5 milhão até o final de 2002?, garante Kaufmann. Uma das apostas da empresa é o Vésper Portátil, que une os conceitos de telefonia celular e fixa. O aparelho tem o mesmo formato de um telefone celular, é alimentado por um cartão pré-pago, mas só pode ser usado na residência do usuário. O próximo alvo de Kaufmann são os internautas. Com a entrada em cena da tecnologia 1XRTT, a empresa vai multiplicar por 10 a velocidade dos serviços de dados, permitindo a seus assinantes navegar na Internet. O executivo sabe, contudo, que apesar das vitórias colecionadas até agora ainda tem um longo caminho pela frente. Seu plano estratégico prevê o equilíbrio das contas no balanço de 2002, abrindo caminho para que a Vésper exiba o primeiro lucro de sua história. Uma tarefa, segundo analistas, que não será nada fácil. ?Com a abertura do mercado, em 2002, a concorrência tende a acirrar-se e será inevitável a guerra de preços?, lembra Wagner Roque, sócio da consultoria RCW Asset Management. Kaufmann sabe bem disso e garante que a Vésper está fazendo sua parte. Resta saber se será o bastante para sobreviver nesse novo ambiente de mercado.