O Carnaval de 2011 já passou, mas 2010 parece não ter terminado.  A instabilidade do final do ano passado continua e tira o sono dos administradores de fundos de investimentos, especialmente os de renda variável, que têm rebolado para garantir ganhos. Até o princípio de março, o Índice Bovespa amargou uma queda de 1,86%. 

O mercado oscila sem um norte definido, deixando os gestores numa navegação às cegas. Nos dois primeiros meses do ano, os fundos de ações abertos perderam cerca de 2,62%, segundo dados da Economática. 

 

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Conservadores: Júlio Simões (à esq.), Inácio Ponchet (centro) e Luciano Jugdar, sócios da Duna,

garantem os ganhos de seus clientes investindo no longo prazo e em setores como telefonia e bancos 

 

Os fundos multimercados, que teoricamente ganham com as oscilações dos preços, também não vêm apresentando um desempenho brilhante. Neste ano, eles renderam 1,42%, abaixo dos 1,88% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), uma referência para aplicações de renda fixa. 

 

Casas menores e independentes vêm confirmando seu diferencial na gestão, o que não quer dizer que o trabalho delas seja mais fácil. As carteiras de valor menor permitem que essas administradoras – ainda que numa escala menor do que a dos anos anteriores – sejam mais ágeis para alterar seu portfólio de investimentos e multiplicar o dinheiro de seus clientes. 

 

Gestoras independentes, como Duna, G5 Advisors e Mcap, vêm mantendo uma trajetória diferente da maioria. Depois de se destacar no ano passado, elas continuam apresentando bom desempenho em 2011. São casas relativamente novas, mas trazem na bagagem a experiência de gente que trabalhou em grandes instituições, como Credit Suisse, Pactual e Citigroup.

 

Seja qual for o porte do gestor, todos sabem que enfrentarão um ano cheio de incertezas. Os desdobramentos da crise financeira na Europa e da turbulência política no Oriente Médio afastam os investidores estrangeiros, impedindo que as ações apresentem uma trajetória sustentável de valorização por aqui. No mercado doméstico, a inflação em alta e o crescimento econômico menor do que o previsto também podem pesar. 

 

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Curto ou longo prazo: Vincent Carvalho, da Mcap, (esquerda) usa estratégias de curto prazo em meio à volatilidade;

Juan Morales, da G5 Advisors, está vendido em ações expostas ao mercado externo

 

A imprevisibilidade deverá se manter nos próximos meses. “O foco deve ser o longo prazo”, diz Luciano Jugdar, que controla a Duna Asset Management, com os sócios Inácio Ponchet e Júlio Simões. 

 

“A liquidez dos ativos e a avaliação setorial são fundamentais”, reforça Ponchet. Com preferência por setores considerados mais seguros, como bancos e telecomunicações, o fundo Duna Long Short rendeu 1,99% nos dois primeiros meses do ano. 

 

“O mercado eufórico não é bom para a gente”, diz Simões. Egressos do Credit Suisse, o trio fundou a Duna em 2008. Ponchet e seus sócios dão preferência para empresas com um potencial de crescimento e alta liquidez. “Procuramos conforto em empresas com grande geração de caixa livre”, diz Ponchet.

 

O mercado instável também exige dos administradores uma atitude mais ativa e rápida na gestão do dinheiro alheio. “O mercado não está andando e muitos deles estão perdidos no tempo e no espaço, presos a conceitos antigos”, diz o professor da Brazilian Business School Ricardo Torres. 

 

Foi com estratégias de curto prazo que Vincent Carvalho, um dos sócios da Mcap, garantiu rentabilidade para os cotistas do Mcap Mach, um multimercado macro. “Temos agilidade”, diz o canadense Carvalho, filho de portugueses, que até 2009 trabalhava na tesouraria do Citigroup, em Nova York. 

 

“As estratégias de curto prazo ajudam no momento em que a tendência do mercado muda.” Fundada naquele ano, a Mcap, além de Carvalho, tem  outros cinco sócios e o investidor Luiz Alves Paes de Barros no Conselho. 

 

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Com três fundos abertos e outros seis exclusivos, o objetivo da gestora é entregar pelo menos 150% do CDI a seus clientes. “As correlações entre os ativos brasileiros são muito instáveis”, afirma Carvalho. “Precisamos escolher a ação certa, a commodity certa e a moeda certa.” Entre janeiro e fevereiro, o Mach conseguiu um ganho de 2,09%.

 

Outros gestores até estão otimistas com a bolsa, mas só no longo prazo.  Juan Morales, da G5 Advisors, prefere os setores voltados ao mercado doméstico, como construção civil, varejo e infraestrutura. 

 

Por outro lado, aposta que ações de empresas mais expostas ao mercado internacional, como siderúrgicas, companhias de papel e celulose e frigoríficos, vão cair e por isso montou posições vendidas. 

 

Junto com André Zylberberg, que teve passagem pelo banco Pactual, Morales administra o G5 Total Return, um fundo long short, que subiu 1,8% nos dois primeiros meses de 2011. Qualquer que seja a opinião dos gestores sobre a bolsa em 2011, o trabalho será duro. Será necessário escolher as empresas com mais critério e fazer análises mais aprofundadas. 

 

Também há chances de lucro nos movimentos de curto prazo, e para isso vale a pena usar a análise técnica (que indica recomendações de compra ou venda de acordo com padrões históricos de oscilação e volume negociado). “Diversificamos o risco cada vez mais”, diz Carvalho, da Mcap. 

 

A atitude dos gestores deve ser imitada pelos investidores. Mais do que nunca é necessário observar o histórico de rendimento e de risco dos fundos de ações. Lembre-se que, num cenário de alta discreta da bolsa, taxas de administração altas eliminam os ganhos.