Nesta segunda-feira (11) uma notícia ganhou atenção no mundo político, após a divulgação da compra, pelas Forças Armadas, de mais de 35 mil unidades de sildenafila, popularmente conhecido como viagra. Usado normalmente para tratar disfunção erétil, o medicamento teria sido comprado para o tratamento de militares com Hipertensão Pulmonar Arterial (HPA).

Dividido entre as três Forças Armadas, o viagra teve boa parte do estoque direcionado à Marinha, que recebeu 28.320 comprimidos, sendo outros 5 mil para o Exército e 2 mil para a Aeronáutica. A dosagem do medicamento adquirido foi de 25 mg e 50 mg.

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Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a sildenafila é uma alternativa no tratamento contra hipertensão. Segundo médico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Marcelo Bandeira, o uso da sildenafila nesses casos é comum nos hospitais brasileiros por se tratar de uma substituição mais barata ao Revatio – uma caixa com 90 comprimidos do Revatio pode ser encontrada na internet acima dos R$ 3 mil, enquanto a sildenafila é encontrada por menos de R$ 10 em caixas com até 8 comprimidos.

“O princípio ativo encontrado no viagra, sildenafila, é o mesmo encontrado no Revatio. Ele efetivamente faz parte do arsenal terapêutico para tratar hipertensão pulmonar, mas em casos extremamente selecionados, que requerem análise prévia de um especialista”, comentou o cardiologista.

Estima-se que, no Brasil, somente 1 em cada 250 mil pessoas sofrem de Hipertensão Pulmonar Arterial, sendo que os casos são mais comuns entre as mulheres: 5 delas para apenas 1 homem com a doença. Ao todo, mais de 100 mil brasileiros possuem a doença, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

De acordo com Bandeira, o mais comum nesses casos é adotar uma prescrição com dosagem de 20 mg, portanto, mais baixa do que os comprimidos adquiridos pelas Forças Armadas. “A dose preconizada de sildenafila para tratamento da hipertensão pulmonar é de 20 mg e a dose do viagra é 25 mg. Acabamos não fazendo uma prática clínica totalmente baseada em evidências, mas adaptada à vida real”, indicou ele. Oficialmente, o recomendado pela SBC é de usar o composto de 20 mg e adotar dosagens maiores somente quando há falta da sidenafila.

Deputado pede explicações

O caso ganhou notoriedade após o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) apontar que os editais de compras estavam no Portal da Transparência do governo federal. Agora, ele pede explicações ao Ministério da Defesa.

As Forças Armadas não ultrapassaram a barreira protocolar nas notas que soltaram entre ontem e hoje (12), comentando somente que o medicamento foi adquirido para o tratamento de HPA. Não existe uma explicação sobre a dosagem maior do que o padrão indicado na bula ou qual a demanda que justificou a compra desses 35 mil comprimidos.

Além disso, ele alega que existe a possibilidade de superfaturamento na compra do medicamento, isso porque em 2020, cada comprimido custou R$ 1,50 e no ano passado a compra de cada unidade chegou a R$ 3,65.