18/08/2022 - 20:10
Um smartphone seria o suficiente para detectar um sinal de risco para um derrame. É o que diz um estudo publicado nesta quarta-feira (17), no Journal of the American Heart Association, que afirma ser possível encontrar artérias estreitas no pescoço, que são um sinal de acidente vascular cerebral (AVC), por um vídeo feito pelo celular (e não precisa ser de última geração).
A pesquisa mostra que a câmera de um smartphone consegue captar o movimento do sangue que flui abaixo da pele. Segundo os autores do estudo, a descoberta pode ser útil no desenvolvimento de uma ferramenta de triagem precoce não invasiva para detectar bloqueios nas artérias carótidas, que podem causar derrames.
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“Entre 2% e 5% dos derrames que ocorrem a cada ano não apresentam sintomas, então é necessária uma melhor e mais precoce detecção do risco de AVC”, aponta o autor do estudo, o cardiologista e intervencionista no Hospital Universitário Nacional de Taiwan em Taipei, Hsien-Li Kao.
“Este foi um momento emocionante para nós”, disse Kao em um comunicado à imprensa sobre as conclusões do estudo. O cardiologista explica que os métodos de diagnóstico existentes (ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética) exigem uma triagem, com equipamentos e pessoal especializado em imagens médicas. “Já a análise de vídeo gravado em um smartphone não é invasiva e fácil de realizar, portanto, pode oferecer uma oportunidade para aumentar a triagem”, explica.
Smartphones mais antigos
As artérias carótidas, localizadas no pescoço, podem ficar bloqueadas por um acúmulo de depósitos de gordura, que são chamadas de placas. Essa condição é chamada de estenose da carótida, quando o fluxo sanguíneo para o cérebro fica restringido e pode levar a um AVC isquêmico. A Sociedade Americana do Coração alerta que quase 87% de todos os acidentes vasculares cerebrais nos EUA são desse tipo.
Localizada logo abaixo da superfície da pele, as carótidas apresentam mudanças no movimento da pele sobrejacente de acordo com a velocidade e os padrões de fluxo sanguíneo. No entanto, essas diferenças não podem ser detectadas a olho nu.
Por isso, os pesquisadores realizaram gravações de vídeos de 30 segundos, feitos por smartphones, utilizando a ampliação de movimento e análise de pixels para detectar mudanças sutis na região das carótidas.
Para testar a acessibilidade, um smartphone de gerações mais antigas foi usado para fazer os vídeos dos pescoços de 202 adultos taiwaneses, com idade média de 68 anos entre 2016 e 2019. Enquanto as gravações eram feitas, os participantes deitavam de costas com a cabeça inclinada para trás, em uma caixa feita sob medida, que restringia o movimento.
Entre os participantes, 54% deles já haviam sido diagnosticados com bloqueio de 50% ou mais na artéria carótida. Os vídeos do celular foram 87% precisos em prever quem tinha um bloqueio na artéria.
Apesar de ser um estudo inicial, Kao parece entusiasmado com o resultado. O cardiologista pondera que mais pesquisas são necessárias para dizer se é possível fazer gravações e realizar a análise de movimento remotamente, com a utilização de um aplicativo que auxilie o paciente.
“A estenose da artéria carótida é silenciosa até que ocorra um AVC. Com esse método, os médicos podem gravar um vídeo do pescoço do paciente com um smartphone, enviar os vídeos para análise e receber um relatório em cinco minutos. A detecção precoce da artéria carótida estenose pode melhorar os resultados do paciente”, conclui o autor do estudo.