O primeiro vídeo publicado no YouTube, em 2005, é de um de seus cofundadores no zoológico. Com 16 segundos de duração, o registro inaugurou uma transformação na forma de gravar e consumir vídeos. A popularização da plataforma fez surgir novas profissões e desenvolveu um mercado de entretenimento que nasce para atender uma demanda inesperada. De acordo com o relatório de impacto do YouTube, a plataforma no Brasil contribui, em média, com R$ 6 bilhões no PIB e, com seu ecossistema, emprega uma rede de mais de 160 mil pessoas. “Vemos isso como um reflexo final do impacto que queremos ter, oferecendo mais oportunidades e mais acesso a espectadores e criadores de conteúdo em todo o mundo”, disse à DINHEIRO Tara Walpert Levy, vice-presidente do YouTube para as Américas.

Ser youtuber virou acarreira dos sonhos para novas gerações e é sinônimo de sucesso, fama e riqueza. Reinando por muito tempo sozinho no segmento de vídeos, a plataforma conseguiu cultivar uma base de usuários e criadores e apenas recentemente viu sua hegemonia ameaçada, quando outras redes sociais passaram a se fortificar, principalmente ao estimular o consumo de vídeos. Para não ficar para trás e perder o espaço criado, a plataforma se passa a oferecer novos formatos para os criadores, como os Shorts (vídeos verticais de até 60 segundos), além de ferramentas de vendas e streaming de eventos esportivos.

Muitas mudanças têm uma causa evidente: o TikTok. Na linha do tempo das redes sociais, a popularização do app chinês merece destaque. A plataforma da ByteDance inseriu de vez os vídeos verticais e curtos em smartphones pelo mundo e o rápido crescimento apresentado fez com que a concorrência desenvolvesse o formato para si. Essa virada de chave para o YouTube, que pertence ao grupo Alphabet (Google), veio em 2021, quando a plataforma apresentou o Shorts, que já soma 30 bilhões de visualizações por dia. “Temos sorte porque o YouTube tem uma longa história de ser multiformato. E o maior impulso em direção ao futuro, é a conexão entre o formato longo e o curto”, disse Tara.

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“O maior impulso em direção ao futuro, é a conexão entre o formato longo e o curto” Tara Walpert Levy VP do YouTube para as Américas.

Com um crescimento do Shorts mais intenso que o projetado, o YouTube investe em atrair mais criadores e marcas, aumentando a receita com publicidade e captando mais usuários. Para Guilherme Dallaqua, executivo da VidMob, plataforma de inteligência criativa, mesmo tendo chegado depois nessa onda do curto-e-vertical, a base de usuários já conquistada ao longo dos anos e a estrutura tecnológica do YouTube ajudam a melhorar o formato e aumentar sua relevância para os anunciantes. “Apesar de serem produtos mais novos, as empresas que estão por trás desenvolvem e evoluem muito rapidamente”, disse.

Já para atrair mais criadores, a aposta do YouTube é o seu programa de monetização, que garante que os profissionais ganhem dinheiro através dos anúncios exibidos em seus vídeos. Desde o início desse ano, o programa passou a incluir o Shorts. De acordo com Rafael Dias, diretor-geral do Dia Estúdio, o YouTube foi um dos pioneiros nesse formato. “Não consigo ver tantas possibilidades de remuneração dentro de outras plataformas”, disse. Além do retorno com a publicidade nos vídeos, os criadores conseguem receber apoio do próprio público através de ferramentas disponibilizadas na plataforma, fazendo com que seja um diferencial no competitivo universo das redes sociais. Em 2021, o número de criadores globais que rentabilizaram mais de US$ 10 mil anuais aumentou em 40%.

STREAMING Paradoxalmente ao investimento em vídeos curtos, outro caminho encontrado pelo YouTube para crescer é a aposta em um modelo mais tradicional de vídeo, se aproximando daquilo que a televisão e outros serviços de streaming oferecem. Nesse caminho, a plataforma passou a transmitir o filé desse universo: jogos de futebol, como o Campeonato Paulista e até a Copa do Mundo em 2022. Na transmissão do Paulistão 2022, colecionou 73 milhões de visualizações ao vivo, resultado celebrado até por um gigante como o YouTube. Nas transmissões da Copa, em parceria com a Cazé TV, do influenciador Casimiro, o recorde de visualizações simultâneas foi quebrado, com mais de 6 milhões.

A construção de possibilidades com esse formato está relacionada ao meio pelo qual as pessoas assistem aos vídeos. De acordo com Tara, no Brasil, 75 milhões de pessoas acessam o YouTube pela TV, um número que cresce desde a pandemia. Essa característica faz a plataforma experimentar nos formatos — já que implica numa adequação ao modo clássico do audiovisual – e a buscar conteúdos normalmente apreciados na tela grande, como o futebol. “Pensamos nisso como um sucesso de poder casar o conteúdo mais tradicional com a creator economy, e isso será cada vez mais comum”, disse Tara.

“Removemos conteúdos que violam nossas diretrizes”

DINHEIRO – Um dos maiores desafios para as plataformas de comunicação é lidar com as fake news e a divulgação de discursos de ódio. Como o YouTube lida com essas questões?
Tara Walpert Levy – Uma das características do YouTube nos últimos anos tem sido o investimento no compromisso e progresso em responsabilidade e gerenciamento de desinformação. Por um lado, essa é uma jornada que nunca termina, porque as novas formas e tipos de desinformação continuam a evoluir. Sempre removemos conteúdos que violam nossas diretrizes, o que aumenta a circulação de conteúdos de qualidade, recompensando criadores que consistentemente criam conteúdos responsáveis.

Há parcerias?
Existem várias parcerias que fizemos no Brasil para educar jornalistas e outros criadores influentes sobre como garantir que o conteúdo que eles colocam no YouTube atenda às diretrizes de qualidade, e permitir, com isso, que a mensagem seja transmitida.

O que podemos esperar da plataforma para este ano?
Vamos continuar a investir em áreas-chave, como Shorts e multiformato e continuar inovando para ser cada vez mais fácil e divertido criar na plataforma. Nossa aspiração é fazer com que criadores, usuários e marcas tenham formas mais fáceis e melhores de se conectarem em momentos que realmente importem.