Após uma campanha marcada pelo início da guerra na Ucrânia, o primeiro-ministro Viktor Orban joga sua sobrevivência política nas eleições legislativas deste domingo (3) na Hungria, após 12 anos de reformas “iliberais”.

Para enfrentar o primeiro-ministro, a oposição formou uma aliança inédita de seis partidos, com o objetivo declarado de derrotar o governante, que chamam de “autoritário”, de 58 anos.

Acusado pela Comissão Europeia de múltiplos ataques ao Estado de direito, Orban silenciou durante três mandatos consecutivos a justiça e os meios de comunicação, estimulando ao mesmo tempo uma visão ultraconservadora da sociedade.

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Orban votou ao lado da esposa, Aniko Levai, durante a manhã em uma escola do subúrbio de Budapeste. Ele prometeu uma “grande vitória”.

“É uma eleição justa e equitativa”, declarou, ao rebater as acusações de fraude na votação, que pela primeira vez é acompanhada por mais de 200 observadores internacionais. Além disso, cada lado mobilizou muitos voluntários.

“Viktor Orban se tornou uma vergonha nacional no mundo: vamos retirar essa vergonha do nome da Hungria”, afirmou seu adversário, Peter Marki-Zay, de 49 anos, durante o comício de fim de campanha no sábado em Budapeste.

Marki-Zay, chamado de MZP, expressou a “esperança” de uma vitória, mas a tarefa não é fácil depois do que ele chamou de “12 anos de lavagem cerebral”.

– “Pode acontecer qualquer coisa” –

A eleição não será decidida na capital Budapeste, onde a vitória da oposição parece garantida, e sim nas 20 a 30 circunscrições com muitos eleitores indecisos, que ajudarão a definir as 199 cadeiras do Parlamento.

O MZP percorreu nas últimas semanas as áreas com indecisos para ouvir os eleitores, com a esperança de derrotar a “propaganda” do governo.

Do outro lado, “Viktor Orban permaneceu invisível ou quase”, destaca Andras Pulai, do instituto de pesquisas Publicus, ligado à oposição. “Ele compareceu basicamente a eventos reservados a seus partidários mais leais”, disse.

A pesquisa mais recente do Publicus mostra um empate técnico, mas outros institutos apontam uma leve vantagem do Fidesz, partido de Orban.

Devido ao sistema eleitoral, a oposição precisaria vencer por 3 ou 4 pontos para obter a maioria no Parlamento, segundo Pulai. “É muito difícil prever o resultado da votação. Pode acontecer qualquer coisa”, declarou o analista.

Consciente do que está em disputa, Viktor Orban fez um apelo na sexta-feira para que os eleitores compareçam às urnas e para não repetir o erro 2002: primeiro-ministro na época, ele perdeu a votação, apesar do favoritismo.

– “A guerra mudou tudo” –

O conflito na vizinha Ucrânia mudou de maneira brutal o cenário da eleição.

“A guerra explodiu e a guerra mudou tudo”, resumiu o primeiro-ministro na sexta-feira, durante um comício, o único de sua campanha.

“Paz contra guerra”, a equação é simples na sua visão.

De um lado, um governo que se nega a fornecer armas à Ucrânia e adotar sanções que privariam a Hungria dos preciosos petróleo e gás russos. Do outro, uma oposição que seria beligerante.

Apesar de insistir com este discurso, a proximidade cultivada desde 2010 com o “agressor” Vladimir Putin pode jogar contra Orban, afirma Pulai.

“No domingo, nas urnas, a questão será clara: Putin ou Europa?”, afirmou Peter Marki-Zay.

– Refendendo LGBT+ –

Além da eleição dos deputados, os húngaros também devem responder a quatro perguntas vinculadas à recente lei anti-LGBT+, que proíbe falar aos menores de 18 anos sobre “mudança de sexo e homossexualidade”.

“As mães são mulheres, os pais são homens. Deixemos nossas crianças tranquilas e protejamos nossas famílias”, gosta de repetir Orban.

A votação termina no início da noite (horário local), mas os resultados serão divulgados algumas horas depois.