No século 18, o Brasil Colonial viveu um dos maiores fenômenos econômicos de sua História. Milhares de pessoas de todas as regiões do País deslocavam-se para Minas Gerais em busca do ouro. Havia, contudo, naquele tempo, uma outra riqueza, mais valiosa do que o minério: o vinho. Como chegava de Portugal em pequenos barris, era mais cobiçado do que o metal amarelo. ?Pagava-se meio quilo de ouro por um barrilote da bebida?, diz Carlos Cabral, autor do livro Presença do Vinho no Brasil (Editora de Cultura, 221 pgs). O valor do sumo de Baco em terras tropicais é uma das grandes descobertas de Cabral, consultor de vinhos do grupo Pão de Açúcar. Ele debruçou-se sobre mais de 510 documentos históricos e 110 livros. O resultado é um passeio por uma Nação que oscilava entre os gostos europeus e as particularidades dos trópicos. Descobre-se que o vinho sempre esteve nos grandes eventos do Brasil, do desembarque de Cabral à chegada da corte de D.João VI. Mais: há provas de que existiam vinícolas no País desde 1540, e com alguma qualidade (leia no quadro abaixo).

Há revelações que ajudam a recontar a saga do vinho no Brasil, a terra da caipirinha. Na carta que Pero Vaz de Caminha enviou à corte portuguesa, em 1500, há relatos que comprovam a curiosidade dos índios pelo líquido português. No escudo de Maurício de Nassau, o holandês que governou Pernambuco de 1637 a 1644, há um cacho de uva que remete às parreiras da Ilha de Itamaracá. Mas o florescer do consumo de vinho no País se deu com a chegada da corte de D.João VI e durante os reinados de D.Pedro I e D.Pedro II. Há um extenso documento extraído do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, que mostra as garrafas degustadas pela corte brasileira. Ali estão o Château Margaux, as melhores safras do Porto e champanhes que eram servidas como água. São indícios de que o Brasil não é tão iniciante nas artes da degustação de tintos e brancos.

HISTÓRIA DOCUMENTADA

A carta enviada pelo Visconde do Rio Branco ao conselheiro Valle da Gama prova que o vinho nacional era apreciado por D. Pedro II. O texto: ?Acompanha a esta doze garrafas de vinho Nacional, fabricado na Posse, as quais S.M. o Imperador deseja levar para a Europa. Sou com a maior consideração e estima, 19 de Maio de 1871?.