09/06/2017 - 15:46
Em seu sétimo ano, o evento Virada Sustentável chega pela primeira vez ao Rio de Janeiro. Até (11) domingo, atividades culturais, gastronômicas, de lazer, debates e palestras com o tema sustentabilidade serão realizadas em mais de 80 bairros da cidade. A virada encerra também a Semana Nacional do Meio Ambiente na cidade.
O coordenador-geral do evento no Rio, Renato Saraiva, explica que o desafio é mobilizar cada vez mais pessoas para provocar e promover a consciência e a educação a respeito da sustentabilidade no sentido mais amplo, além do ambiental e ecológico.
“Entendendo que sustentabilidade é tudo o que diz respeito à subsistência da humanidade nesse momento crucial. Entra aí arte e cultura, defesa de direitos, espiritualidade, saúde, ciência. Então tudo isso a gente abarca em painéis, seminários, também shows, performances, oficinas”, disse Saraiva.
“É uma programação bem diversa, não só de pensamento para os iniciados, como também de arte e cultura para quem não é iniciado começar a entender o conceito de sustentabilidade como algo mais amplo do que simplesmente cuidar do lixo”, completou.
Até domingo, serão 435 atividades em todas as regiões do Rio de Janeiro e também nas cidades da região metropolitana Niterói, Duque de Caxias e São João de Meriti. “Como principais lugares temos a Praça Mauá, o Parque Lage e o Parque Madureira. E domingo fechamos no Parque Madureira com um baile charme a céu aberto”, explicou.
A Virada Sustentável teve início em São Paulo e também já foi realizada também em Salvador, Manaus, Porto Alegre e Valinhos. No ano passado, 1 milhão de pessoas participaram nas 800 atividades na capital paulista.
No Rio, uma das atividades é a exposição Problemão, do movimento Rio: Eu Amo, Eu Cuido. Foram feitas esculturas gigantes na forma de uma guimba de cigarro, em Copacabana, e um canudo, no Parque Madureira – rejeitos que, por serem pequenos, por vezes, passam despercebidos na cidade.
Os objetos ficarão três meses nesses locais, com uma placa “Incomoda, né?!”, para alertar sobre a importância de recolher esses pequenos lixos. A programação completa está disponível na internet.
Desenvolvimento
O evento é alinhado com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU), uma agenda de iniciativas para chegar ao ano de 2030 numa situação melhor para o mundo. Na abertura do evento, no Museu de Arte do Rio (MAR), o representante no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Guilherme Larsen, destacou a importância da união entre governos, sociedade civil e setor privado para atingir os objetivos.
“Não vamos fazer nada sozinhos, com ações isoladas. A gente pensa que até 2030 tem muito tempo, mas vai passar rápido. Então o quanto antes a gente acelerar esses meios de implementação para ter a erradicação da pobreza, crescimento econômico e sustentabilidade de forma interligada, é isso que a gente precisa. E a forma como a virada está sendo feita, é o exemplo de como a gente pode trazer isso para a realidade de todos e todas.”
A representante da ONU para o meio ambiente, Flora Pereira, explicou que o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, foi criado há 25 anos, no Rio de Janeiro, durante a ECO 92.
“A cada ano é escolhido um tema para a sociedade e esse ano o tema é conexão com a natureza. É relembrar o quanto a gente, enquanto sociedade, precisa se reconectar. O mundo está cada vez mais dinâmico, todo mundo buscando o 3G ou 4G no celular e esquece de passar um fim de semana seja nas praias, seja nos parques. Então esse ano a ONU Meio Ambiente chama todo mundo para isso”.
Rio de Janeiro
No painel de abertura, chamado de Rio e seus caminhos para a sustentabilidade, o economista da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Sérgio Besserman destacou que o Rio de Janeiro é a única cidade do mundo com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade na categoria Paisagem Urbana. De acordo com ele, para fazer jus a esse título, a cidade precisa fazer a sua parte, já que foi “abençoada” com as paisagens naturais, com três grandes florestas dentro da cidade, duas baías e um sistema lacustre.
“O Rio é a expressão do desafio do desenvolvimento sustentável. Tem pesquisa, feita em Estocolmo, que aponta que a capital ecológica do planeta é o Rio de Janeiro. Ok, não fomos nós que fizemos, foi Deus, a gente só fez besteira. Mas está na hora de somarmo-nos a Deus e tornar esse ativo intangível, da marca do Rio, e fazer a nossa parte. Não adianta falar se não pratica. Tem alguns símbolos, a Baía de Guanabara é o mais especial de todos eles, mas há muitos outros”.
O ambientalista Sérgio Ricardo, fundador do Movimento Baía Viva, acredita que as águas da Baía de Guanabara devem ser vistas não como um problema, mas como uma solução econômica e para a qualidade de vida de toda a região metropolitana.
“Apresentamos uma agenda para a saúde ambiental da Baía de Guanabara e dos seus povos. São políticas públicas que não foram levadas em conta há 22 anos, quando foi feito o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. A indústria petroleira está avançando sobre áreas pesqueiras, os rios do fundo da baía que ainda estão limpos estão completamente desprotegidos. As estações de tratamento de esgotos construídos não estão funcionando porque não foram construídos os troncos coletores”.
Ele destaca a importância da baía para projetos de mobilidade urbana, com a criação de linhas de barca para São Gonçalo, a segunda maior cidade do estado, Ilha do Fundão, Duque de Caxias e entre os aeroportos do Galeão, na Ilha do Governador, e Santos Dumont, na região central. “A baía pode ser uma solução para reverter essa imobilidade urbana que nós temos na região metropolitana. Estamos falando da melhoria da qualidade do ar, melhoria da qualidade de vida das pessoas e a retirada de mais de 100 mil veículos das vias da região”.
A subsecretária de Planejamento e Gestão Governamental do município do Rio de Janeiro, Aspásia Camargo, explica que foi criado um gabinete de sustentabilidade para fazer a integração do Plano Estratégico para 2021 com os ODS. “Já estamos colocando as trilhas Transcariocas, que precisam ser aperfeiçoadas e expandidas. Para consolidar internacionalmente essas trilhas são 180 quilômetros. O fecho da trilha é a Enseada de Botafogo, que nós queremos despoluir.”