Cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conseguiram mostrar, pela primeira vez, que a infecção pelo vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, altera o padrão de funcionamento dos RNAs das células. Eles examinaram 13 conjuntos de dados obtidos ao longo de quatro estudos que analisaram o RNA viral, bem como o de células animais e humanas.

“Nosso primeiro achado importante neste trabalho é que a infecção pelo SARS-CoV-2 aumenta no conjunto de RNAs da célula o nível global de metilação do tipo m6A [N6-metiladenosina], em comparação com as células não infectadas”, disse à Agência Fapesp, Marcelo Briones, pesquisador do Centro de Bioinformática Médica da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coordenador da investigação.

A metilação é uma modificação bioquímica que ocorre na célula pela ação de enzimas capazes de transferir parte de uma molécula para outra. Isso altera o comportamento de proteínas, enzimas, hormônios e genes.

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“Nos vírus, a metilação tem duas funções: regular a expressão das proteínas e defender o patógeno da ação do interferon, uma potente substância antiviral fabricada pelo organismo hospedeiro”, disse Briones.

A equipe também observou que diferentes cepas do vírus têm variações na sequência de bases nitrogenadas que compõem os seus nucleotídeos. “Desse modo, algumas cepas podem ser mais bem metiladas do que outras e, assim, proliferar melhor dentro das células”, afirma o pesquisador.

Em situação normal, sem estímulos, uma partícula viral se replica em mil outras. “Os achados abrem a perspectiva para novos tratamentos para a Covid-19 e o reposicionamento de drogas conhecidas”, explicou Briones. Além disso, traz elementos para a melhor compreensão da capacidade das sublinhagens de escapar ao sistema imune.