O mercado de cartões de crédito passou a semana ruminando duas perguntas: como a reestruturação proposta este mês pela Visa International vai afetar os negócios da Visa no Brasil?; que tipo de impacto a nova estrutura deverá ter sobre a competição no setor? Para respondê-las, é preciso compreender a mudança em curso. A Visa hoje é uma associação. Todos os bancos que emitem cartões com sua bandeira são membros. E todos os membros têm participação no seu controle e pagam uma taxa que lhes permite usar a marca e o sistema de processamento. No Brasil, são 40 ao todo.

No mundo, 21 mil instituições financeiras. Agora, todas as regiões Visa, com exceção da Europa, vão unir-se em uma única companhia global. Em seguida, esta nova corporação abrirá capital. Os bancos membros se tornarão acionistas minoritários, embora ainda não se saiba em que condições se daria a troca das atuais participações por ações.

Na prática, a Visa vai competir com a Mastercard na Bolsa de Nova York. A primeira estimativa conhecida, da corretora Soleil Securities, atribui valor de mercado de US$ 12,5 bilhões para a Visa, contra os US$ 9,2 bilhões hoje registrados pela Mastercard ? que abriu capital quatro meses atrás. Faz sentido, já que a Visa domina o setor de pagamentos com 60,3% do volume mundial de compras com cartões de crédito, enquanto a Mastercard tem 26,9% do mercado. ?Este é um ótimo momento na história da Visa para fazer essa transição. Nós continuamos a ser um líder na indústria de pagamentos, nosso crescimento e nossa estratégia para mercados emergentes são bem sucedidos?, disse o chairman da Visa International, William Campbell, no dia 11 de outubro, durante o anúncio da reestruturação global. ?Esperamos que a nova estrutura acelere o crescimento.?

A Visa é a mais antiga das bandeiras de cartão controladas por instituições financeiras. Surgiu nos anos 60, por iniciativa de um conjunto de bancos capitaneado pelo Bank of America. A idéia era criar uma zona de cooperação para serviços com cartões que gerasse ganhos de escala, sem prejuízo da competição entre os bancos. Por isso, a Visa não emite nenhum cartão. Ela apenas integra, de um lado, os emissores (bancos) e, de outro, os credenciadores de estabelecimentos, como a Visanet no Brasil.

Com esse mesmo modelo, anos depois, nasceu a MasterCard ? que, desde então, vinha basicamente seguindo os passos da pioneira Visa. Ocorre que, no caso da abertura de capital, a MasterCard saiu na frente e foi muito bem sucedida ? valorização de mais de 80% em suas ações desde o IPO em maio. Isso certamente estimulou os bancos membros (donos) da Visa a fazer o mesmo. Mas será o caso de falar em uma ?Nova Visa?, como sugere a companhia em seu material promocional? ?Eu acho que não?, diz o consultor Boanerges Ramos Freire, especializado em varejo financeiro. ?É uma novidade para dentro da empresa, mas não para fora.?

O impacto da reestruturação será muito gradual no mundo todo. ?No Brasil, em princípio, não vejo grande efeito?, diz Boanerges. Não se imagine, contudo, que atingiu-se o fim da história na indústria de pagamentos. Dee Hock, o visionário criador da Visa, lamentava que a companhia não tenha incorporado lojistas e usuários do cartão na associação que a controla. Só com bancos no controle, a Visa ficou a meio caminho do sistema vislumbrado por ele no final dos anos 60. Se inteiramente adotado, seu modelo permitiria que o lojista emitisse o seu cartão com bandeira Visa sem necessidade de um banco para intermediar a operação. Isso sim seria revolucionário.

A VISA NO MUNDO

Volume de vendas com cartão
US$ 4,3 trilhões

Número de cartões
1,4 bilhão

Número de transações
54,6 bilhões

Número de membros associados
20.140