A CHAVE DO CADEADO DOS IPOS (oferta pública inicial, em inglês) no mercado brasileiro está nas mãos da Visanet. Cabe à credenciadora de estabelecimentos dos cartões de crédito e débito da bandeira Visa a missão de destravar essa fechadura. Em meio a um dos mais incertos momentos da Bolsa nos últimos tempos, a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento ? nome oficial da Visanet ? protocolou na segunda-feira, 1° de setembro, seu prospecto preliminar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Será uma oferta secundária, sem a emissão de novas ações. A expectativa é de que até o final de novembro o sino da Bovespa toque para a nova companhia, que guarda a ambição de captar R$ 7 bilhões ? e, assim, se tornar a maior emissão de ações da história da Bolsa brasileira. Esse montante superaria o da mineradora OGX, de Eike Batista, que levantou R$ 6,6 bilhões no primeiro semestre deste ano. O mais importante, porém, é que a Visanet dará início a um novo período na Bovespa. As estréias serão mais seletivas e dificilmente se repetirão as 64 ofertas iniciais em um único ano como em 2007. ?Os IPOs devem voltar com empresas mais sólidas?, diz Roberto Lee, diretor da Win Home Broker.

O momento de a Visanet abrir seu capital foi definido no final de maio, quando uma reunião a portas fechadas entre Bradesco, Banco do Brasil e ABN Real ? principais acionistas da empresa — decidiu pela saída do presidente Antonio Luiz Rios. Os controladores entendiam que Rios tinha o conhecimento setorial, mas faltava o contato direto com o mercado de capitais. Na primeira quinzena de junho, o cargo foi entregue a Rômulo Mello Dias, que estava no Bradesco Banco de Investimentos, instituição que é a coordenadora líder da oferta. Esse foi o último passo de um processo que tinha começado meses antes. O que tirava o sono dos executivos dos grandes bancos eram os números que seriam apresentados para os investidores. Com 25% mais transações em suas maquininhas de cartão do que sua concorrente Redecard, que faz o credenciamento dos cartões Master- Card, alguns indicadores deixavam a desejar em uma comparação entre as empresas. Pelas contas dos controladores, a Visanet tem condições de superar os R$ 4,1 bilhões captados pela Redecard em 13 de julho do ano passado. Além da quantidade de transações, seu valor de mercado é maior ? R$ 21,5 bilhões contra R$ 19,5 bilhões ? e seus principais números deveriam refletir essa grandeza (veja tabela).

Muitas idas e vindas cercam o IPO da Visanet. Inicialmente previsto para acontecer no primeiro semestre do ano passado, os planos tiveram que ser revistos ao se constatar que a marca da empresa ainda estava ligada à investigação sobre o Mensalão. Naquela época, o fundo de marketing que o Banco do Brasil tem direito por ser acionista da Visanet foi utilizado com a agência de publicidade DNA, de Marcos Valério. Em fevereiro, quando o assunto já parecia frio o suficiente, a Visa International pediu que a abertura de capital da Visanet fosse realizada após a sua ida a mercado nos Estados Unidos. Em 19 de março, o martelo da Bolsa de Nova York foi batido e a Visa captou US$ 17,8 bilhões, ficando com o simbólico título de maior IPO da história americana. ?O momento do mercado de capitais não é dos mais adequados, mas a Visa demonstrou nos Estados Unidos ter um nome forte capaz de superar a crise?, diz o consultor Boanerges Ramos Freire, especialista em meios eletrônicos de pagamento. A Visanet conseguirá repetir esse feito?