Imagine comprar um título que pague remuneração eterna. Isso mesmo, sem data de vencimento. É assim que funcionam os chamados bônus perpétuos. Esse tipo de papel, que já existia no circuito financeiro internacional, está ganhando fama por aqui. Tudo começou no final do primeiro semestre, quando o Bradesco lançou o primeiro bônus perpétuo brasileiro no mercado
internacional. A principal instituição financeira do País emitiu US$ 300 milhões, pagando uma taxa de juros de 8,875% ao ano. A operação foi considerada um sucesso, principalmente em função da procura
por parte dos investidores asiáticos. Depois do Bradesco, outras empresas, além de instituições financeiras, seguiram o exemplo e também lançaram títulos semelhantes no mercado, como Braskem, Odebrecht, Banespa e Gerdau (leia tabela). Desde então, o montante dos bônus perpétuos brasileiros emitidos no exterior
já soma US$ 2,8 bilhões.

Os maiores compradores desse tipo de papel são os investidores da Ásia. ?O mercado asiático é novo, mas possui muita liquidez e um apetite por grandes volumes?, diz Paul Altit, vice-presidente de Finanças da Braskem. Segundo ele, os asiáticos ficaram com 80% dos bônus lançados pela petroquímica, que emitiu US$ 150 milhões em perpétuos, pagando uma taxa de juros anual de 9,75% ao ano. Os asiáticos também levaram 40% dos bônus colocados pelo Bradesco e 65% dos lançados pelo Banespa. A explicação para esse fenômeno está na combinação entre rentabilidade e segurança. A segurança está no fato de que só grandes empresas, de renome internacional, têm acesso a esse mercado. A rentabilidade é garantida pelo pagamento semestral ou trimestral dos juros (dependendo do emissor), bem acima da taxa básica de juros conseguidos nos títulos do Tesouro americano. Após o lançamento, o emissor pode resgatar o título cinco anos depois, operação conhecida como ?call?. Depois desse prazo, o emissor tem opções de resgate trimestrais. ?Se não for resgatado, o bônus pagará juros pela vida inteira, daí o nome perpétuo?, explica Airton Villafranca, superintendente internacional do grupo Santander-Banespa.

Se os investidores asiáticos, principalmente as pessoas físicas de alta renda, são os grandes compradores dos bônus perpétuos, os brasileiros são a minoria. Explica-se: como se trata de uma emissão internacional, apenas quem tem conta no exterior pode participar desse tipo de operação. Mesmo assim, a procura verde-amarela existe. ?Cerca de 10% dos nossos papéis foram comprados por investidores da América Latina, a maioria brasileiros com conta no exterior ou via operação de private banking?, afirma José Guilerme Lembi de Faria, diretor executivo da área internacional do Bradesco.

As maiores captações
Bancos e grandes empresas lideram as emissões

Emissor

Valor

Taxa de juros

Braskem

US$ 150 milhões

9,75% ao ano

Odebrecht

US$ 200 milhões

9,625% ao ano

Bradesco

US$ 300 milhões

8,875% ao ano

Banespa

US$ 500 milhões

8,70% ao ano

Gerdau

US$ 600 milhões

8,875% ao ano

US$ 2,8 bilhões é o valor total dos bônus perpétuos lançados
até setembro deste ano