14/02/2022 - 16:49
Às vésperas de uma provável invasão à Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin só tem uma razão para receber a visita de Jair Bolsonaro: marcar território na América Latina, que com as exceções de Cuba e Venezuela, sempre esteve muito mais alinhada à influência dos Estados Unidos. Se para a Rússia esse encontro importa do ponto de vista geopolítico, para o Brasil é o oposto: demonstra o fracasso da política externa brasileira. Bolsonaro já destruiu a reputação do País mundo afora. Acabou com o histórico do Brasil como mediador de conflitos e como nação reconhecida por esforços de paz. Foi assim por décadas. Até agora.
Bolsonaro, que disse “I love you” a Donald Trump em 2019, só cultivou inimigos entre seus pares. Não visitou Joe Biden porque ficou magoado com a derrota de Trump. Ainda na eleição presidencial dos EUA, disse que “quando acaba a saliva tem que se usar a pólvora”. Também não se encontrou com Emmanuel Macron, presidente francês que lamentou pelo Brasil ter este presidente. Para quem não se lembra, quando Macron criticou o aumento do desmatamento da Amazônia, Bolsonaro fez piadas na internet sobre a beleza da primeira-dama da França, Brigitte, 25 anos mais velha que o marido.
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Bolsonaro atacou a Alemanha, quando a chanceler Angela Merkel ainda estava no cargo, e tentou reescrever a definição de “nazismo de esquerda” para os próprios alemães. Ironizou a Noruega, gargalhou das cobranças da Espanha, lançou falsas acusações à China sobre a origem da pandemia. Entre os vizinhos, atacou o presidente da Argentina, Alberto Fernández, de esquerda. “Argentinos, vocês merecem”, disse.
Tão isolado quanto a Ilha de Tristão da Cunha, local considerado o território mais remoto do mundo, Bolsonaro transformou o Brasil em um país diplomaticamente mal quisto. O convite da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para iniciar o processo de negociações de adesão brasileira à entidade propagou entre bolsonarista a falsa percepção de sucesso no exterior. Errado. Foi sob o governo Michel Temer, em 2018, que o pedido foi oficialmente iniciado.
Neste cenário de poucos amigos é que o presidente tentará uma aproximação com Putin, um parceiro de países como Venezuela, Coreia do Norte e China, publicamente atacados por Bolsonaro. A visita oficial também será uma forma de mostrar a Joe Biden e aos europeus que alguém ainda o recebe para um café. Mas o saldo da viagem deve ser outro. Será um atestado de falência da diplomacia brasileira.