A oitava morte provocada pela passagem de tornados pela região Sul do País na última sexta-feira, 7, confirmada pelo governo do Paraná nesta terça-feira, 11, foi de um homem de 70 anos que infartou em frente ao centro de saúde de Rio Bonito do Iguaçu, a cidade mais atingida no temporal.

“Esse último paciente que infartou, foi em frente ao centro de saúde. Ele foi acolhido, mas acabou não resistindo. Ele tinha passado a noite vendo aquela destruição”, contou o secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, em entrevista ao Estadão, na tarde desta terça.

José Eronides de Almeida morreu na manhã de sábado, 8, em decorrência de uma insuficiência cardíaca aguda. A morte dele foi enquadrada como “estresse pós trauma no contexto do tornado”. A cidade teve seis óbitos registrados. Guarapuava (PR) e São José dos Ausentes (RS) também tiveram um registro de morte cada uma.

“A cidade (de Rio Bonito do Iguaçu) tem 14 mil habitantes, metade na zona rural e em assentamentos, e outra metade mora na cidade desde sempre, todo mundo se conhece. Sábado estava muito difícil ficar lá. Era um ambiente de tristeza”, disse o secretário, que esteve na cidade no sábado e na segunda-feira, 10.

Segundo ele, o Paraná tem 20 pessoas internadas por ferimentos causados durante a passagem dos tornados, que deixou 835 feridos. Dessas, duas ainda estão em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). “Pela informação que tenho, nenhum corre risco de morte nesse momento, mas claro que é tudo muito dinâmico”, afirmou.

Os outros internados, conforme o secretário, estão próximos de deixarem os hospitais da cidade e da região. “Tivemos cirurgias extensas, muitas fraturas e de ossos mais longos, o que demanda dias a mais no hospital. De modo geral, estamos com isso controlado agora”, explicou Beto Preto.

Na noite desta terça, a Secretaria de Saúde atualizou o número de internados para 23, sendo cinco em UTIs. O acréscimo se deu na lista de Laranjeiras do Sul (PR) pelo atendimento ou retorno de pessoas com infecções em suturas e novos ferimentos ocorridos em residências já no processo de reconstrução.

Destruição de prédios da saúde

O secretário contou que, no auge do atendimento por causa do desastre, Rio Bonito do Iguaçu chegou a ter 36 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que chegaram de municípios vizinhos. Para se ter ideia, a cidade tem apenas uma ambulância do serviço e do tipo “beta”, que não conta com médico na equipe.

No rastro da destruição, diversos prédios usados pelas equipes de saúde também sofreram danos. De acordo com o secretário, a obra de um pronto atendimento, que estava quase pronta, teve “muita quebradeira”.

“Mesmo assim, vai dar para reconstruir. O centro de especialidades foi destruído, várias UBS destruídas, mas algumas resistiram bem por não ter ficado no epicentro. O centro de saúde, onde fica a secretaria municipal e a base do Samu, foi moderadamente atingido, mas ficou em pé”, explicou.

Ainda conforme Beto Preto, a procura acima da média pelos atendimentos em razão do desastre já começou a diminuir. “Municípios colocaram servidores à disposição, entrou a Força Nacional do SUS ajudando principalmente a organizar. Mandamos muitos suprimentos também para lá”, disse.

Outra preocupação é com os pacientes de doenças crônicas que demandam atendimento diário, como pessoas com problemas renais que precisam de hemodiálise. Segundo o secretário, as consultas e transporte de pacientes estão sendo reorganizadas.

Na avaliação dele, o momento agora é de reconstrução. “Hoje é um ambiente de refazimento, com todos envolvidos. Chegaram equipes de outros estados, têm até marceneiros e carpinteiros, coisa que quase não se encontra mais, fazendo telhados na frente do pronto atendimento da cidade. As pessoas estão se disponibilizando como voluntárias”, afirmou. “O que era desolação no sábado virou transpiração. As coisas estão acontecendo”, destacou.

Ventos de até 330 km/h

Somente o Paraná foi atingido por três tornados na última sexta-feira. Um dos tornados foi o que devastou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, com ventos de até 330 km/h. Outros dois tornados também foram registrados na sequência nos municípios de Guarapuava e Turvo, de acordo com confirmação feita na segunda-feira, 10, pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Estado (Simepar).

Os tornados são resultado da passagem de uma frente fria e de um ciclone extratropical sobre o Oceano Atlântico, que criou um ambiente instável de descargas elétricas, granizo e ventos intensos na região.

“Essa frente fria passou rapidamente sobre o Rio Grande do Sul nas primeiras horas da manhã e chegou ao Paraná no meio da tarde de sexta-feira. À frente dela, algumas células de tempestade se formaram e se organizaram em supercélulas. Nessas supercélulas houve formação de tornados”, disse Sheila Paz, meteorologista do Simepar.

O ciclone, portanto, não é o mesmo fenômeno que os tornados, mas criou as condições para que eles ocorressem, ampliando a instabilidade atmosférica e favorecendo a formação de tempestades rotativas.