20/09/2022 - 18:27
A retirada das tropas russas do norte de Kharkiv, leste da Ucrânia, graças a uma contraofensiva relâmpago de Kiev em setembro causou comoção e alívio à população das regiões liberadas, onde começam a emergir testemunhos de tortura durante a ocupação.
A ofensiva militar da Ucrânia avançou, mas a polícia e investigadores chegaram à localidade fronteiriça de Kozacha Lopan, onde as ações das tropas russas são apuradas.
Durante a ocupação, a delegacia de polícia da pequena cidade foi utilizada como base por uma milícia local pró-russa, e supostas vítimas de tortura começaram a aparecer.
“Pessoas que trabalhavam como ‘policiais’ na chamada ‘Polícia Popular’ são denunciadas”, disse à AFP a investigadora de crimes de guerra Katerina Shevtsova.
“Eles serão apresentados à Justiça nos próximos dias. Em sua maioria são habitantes locais”, explica à AP.
O presidente Volodymyr Zelensky classificou as forças do Kremlin como “assassinas” e “torturadoras”. Moscou chamou de “mentiras” as acusações de atrocidades.
“Olexander” pediu que sua identidade fosse preservada porque tem família na Crimeia, ocupada pela Rússia. Ele disse à AFP que foi detido em 22 de março por homens armados em veículos SUV.
Ele afirma que foi capturado por milicianos da chamada República Popular de Luhansk, uma força estabelecida em 2014 com o apoio de Moscou neste enclave do leste da Ucrânia.
– “Como metal fundido” –
Olexander está certo que foi um alvo prioritário porque é veterano da “Operação Antiterrorista” da Ucrânia, onde lutou contra as forças pró-russas de Luhansk e Donetsk.
As lembranças deste homem de 40 anos sobre como foi tratado por seus algozes russos são ao mesmo tempo traumáticas e confusas.
Ele explicou como os membros da milícia russa o espancaram, chutaram e lhe aplicaram choques elétricos, incluindo em seus genitais.
“Pedi que não me espancassem porque tenho uma hérnia, então baixaram minhas calças”, afirma. “Chamaram de terapia de choque (…) senti como se estivessem despejando metal fundido em mim”, lembra.
Olexander ficou detido por cindo dias na estação de trem do pequeno vilarejo onde morou por toda sua vida. Depois, foi transferido a uma prisão maior em Hoptivka.
Em 17 de abril, seus sequestradores o libertaram para sua surpresa, possivelmente para dar espaço a outros prisioneiros de guerra.
Olexander voltou a Kozacha Lopan neste mês, quando a cidade foi retomada pelas forças de Kiev, e contatou a polícia ucraniana.
– “Tudo confirmado” –
Kozacha Lopan se encontra em uma das principais linhas ferroviárias em direção ao sul, através da fronteira internacional da Rússia até a cidade ucraniana de Kharkiv, e foi uma das primeiras cidades a cair.
A rodovia que sai de Kharkiv está abarrotada de marcas de mísseis. Carros Lada pintados com o símbolo “Z”, símbolo usado pelas tropas russas, foram largados nas ruas, destroçados.
Atualmente, a região está sob controle das forças ucranianas mas a situação ainda é tensa. Até mesmo durante os trabalhos dos investigadores é possível ouvir o som dos tiros.
Shevtsova se move rapidamente, convencida de que tem todas as provas necessárias para processar os suspeitos a quem acusa de colaborar com as forças russas.
“Hoje inspecionamos os porões, onde, como todos sabemos pelas evidências, pessoas foram torturadas”, disse. “Está tudo confirmado”.