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O acidente com o vôo JJ 3054 da TAM não causou perdas irreparáveis apenas às famílias dos passageiros e funcionários da companhia aérea. A catástrofe também afetou grandes corporações que viram seus principais executivos desaparecerem tragicamente de uma hora para outra. Ali, estavam gerentes, diretores, presidentes e donos de organizações acompanhados de funcionários de alto escalão. Como aconteceu no acidente de 1996, com a mesma TAM e no mesmo aeroporto, era de se esperar que a tragédia atingisse o coração das empresas. Afinal, Congonhas é o mais usado por quem viaja a trabalho e o horário de retorno do JJ 3054 se encaixava com o fim do expediente comercial. Ao serem anunciados os nomes dos passageiros, as empresas começaram a contabilizar as perdas de seus talentos: quatro pessoas da siderúrgica Gerdau, mais quatro do banco ABN Amro, três da Braskem, três da Abiquim, dois do SBT, dois da Coteminas, um da Nokia, um da Abimaq e assim por diante. Algumas empresas perderam seus comandantes e, se não bastasse a dor, terão de solucionar um problema crucial para a sobrevivência das organizações: a sucessão de talentos extremamente qualificados. ?É uma transição traumática que demanda solidariedade e entendimento dos funcionários e fornecedores?, diz Renato Bernhoeft, da Bernhoeft Consultoria Societária. ?Principalmente quando ainda não há um plano de sucessão estabelecido.?

É o caso dos irmãos João Caltabiano e Pedro Augusto Caltabiano, que dirigiam o grupo Calmac, empresa dona de mais de 10 concessionárias de carros como Toyota, GM, Mercedes- Benz, Chrysler, Land Rover e Nissan. Os dois, acompanhados de Ciro Nomuda, diretor financeiro da companhia, voltavam de Porto Alegre depois de negociar a compra de mais uma concessionária para o grupo. De repente, a empresa se viu sem os seus principais cérebros.

 

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?Eles eram a empresa?, diz Luiz Tambor, diretor da Land Rover no Brasil. ?Era com eles que tratávamos da estratégia e dos negócios.? Outro grande empresário que personificava a empresa era o gaúcho Atílio Bilibio, presidente da fabricante de materiais construtivos Medabil. Fundador da companhia, que faturou R$ 267 milhões em 2006, uma semana antes do acidente, ele havia comemorado 40 anos de empresa e lançado o livro Como começar uma indústria com pouco dinheiro e muita paixão. O empresário estava começando a preparar a sua sucessão e também estudava a abertura de capital na Bovespa. ?O sucessor seria definido na metade de 2009?, diz um funcionário da Medabil. ?Agora, infelizmente, a família está reunida para definir quem comandará a empresa.? Apesar de ser um momento em que todos estão fragilizados, a tomada de decisão é necessária. ?Não se trata de ser insensível, mas não pode haver vácuo no poder?, diz José Carlos Aguilera, sócio da Galeazzi & Associados, empresa especializada em reestruturações. ?Pode ser muito prejudicial para a companhia.?

A própria TAM passou por essa situação. Dois dias depois da morte do comandante Rolim Amaro, em 2001, um novo presidente era nomeado.

?Geralmente, os conselhos de administração têm um plano de gestão de crise?, diz José Guimarães Monforte, presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Mesmo assim, é difícil repor um executivo que conhece a empresa como a palma da mão de um dia para o outro. O superintendente da vinícola Aurora, Carlos Gilberto Zanotto, um dos passageiros do vôo JJ 3054 tinha acabado de assumir o principal cargo da companhia que faturou R$ 152, 5 milhões em 2006. Zanotto, de 46 anos, entrou na empresa aos 14 anos de idade e passou por todas as áreas da vinícola nos últimos 32 anos. Foi nomeado superintendente, em março, depois de um trabalho brilhante que fez da empresa uma das maiores exportadoras de vinho e suco do País.

Como, agora, substituir um profissional que foi criado nos corredores da companhia? ?É muito difícil encontrar um sucessor à altura?, diz Aguillera, da Galeazzi. Isso não se restringe apenas a quem comanda uma empresa. Vitacir Paludo, herdeiro e vice-presidente da Paludo Participações, holding que é dona da fabricante de borracha e plástico Vipal, uma gigante que faturou R$ 682 milhões em 2005, não tocava o dia-adia da companhia. Paludo, entretanto, tinha uma forte atuação no conselho de administração. Recentemente, a empresa investiu mais de R$ 40 milhões na criação da BS Bios, uma produtora de biodiesel em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Parte da estratégia de investimentos e atuação do grupo era desenhada por ele. Tragicamente, perde-se o brilho e genialidade de Vitacir e de tantos outros talentos a bordo do vôo JJ 3054.