Cristina perdeu seu filho Juan Alberto na sala de espetáculos Bataclan e Yann foi ferido em um restaurante de Paris. Com o julgamento dos ataques terroristas de 13 de novembro de 2015, ambos buscam respostas.

Sentada num banco ensolarado em frente à Câmara Municipal de Paris, a espanhola Cristina Garrido admite à AFP que é “difícil” retornar à cidade onde o filho vivia.

“Mas, por sua memória, tenho que estar aqui, tenho que ouvir os argumentos que os responsáveis pela segurança nacional e os líderes políticos vão apresentar sobre por que permitiram que o ataque acontecesse”, explica.

Juan Alberto perdeu a vida aos 29 anos, junto com outras 89 pessoas, no Bataclan, quando um comando de três terroristas atirou contra as pessoas que assistiam a um show do Eagles of Death Metal. Não foi o único ataque naquela noite fatídica.

Minutos antes, um homem foi morto nos arredores do Stade de France quando três homens-bomba se explodiram e 39 outras pessoas foram mortas a tiros por três outros agressores em bares e restaurantes no leste de Paris.

Yann Revol foi ferido no ataque ao restaurante Le Petit Cambodge e embora agora tente “não esperar nada”, confessa que procura, com o julgamento aberto nesta quarta-feira e marcado até maio, compreender o que aconteceu.

“Quase seis anos se passaram desde o ataque. O tempo passa, mas precisamos entender um pouco mais o que aconteceu e depois seguir em frente. Vemos esse julgamento como uma etapa”, explicou à AFP.

– “Psicologicamente difícil” –

O julgamento tem quase 1.800 partes civis, mas nem todos os sobreviventes e parentes das vítimas dos piores ataques em Paris desde a Segunda Guerra Mundial concordam em falar, como Yann e Cristina, para evitar reviver o trauma.

“Nós nos perguntamos se temos o direito de falar. E então dizemos a nós mesmos que isso nos afeta de maneira diferente e que talvez seja importante explicá-lo, não apenas para nós mesmos, mas também para o resto”, diz o sobrevivente francês.

Abed Bendjador, que representa um argentino e um espanhol presentes no Bataclan, explica que seus clientes não comparecerão às primeiras audiências. “Psicologicamente, é muito difícil”, disse ele à AFP.

“Eles se apresentaram [como parte civil] ontem e anteontem para dizer: ‘Estive presente, consegui não ficar em casa'”, mas “não tenho certeza se eles esperam muito de [Salah] Abdeslam e dos demais réus”, acrescenta.

Se tiver a chance de falar com Abdeslam, Cristina dirá: “Assassino. Espero que você sofra o que estamos sofrendo desde o dia em que você assassinou Juan Alberto e as outras 129 pessoas”, reconhece.

A mulher, que fará viagens entre Madri e Paris durante a duração do processo, não pretende comparecer nos primeiros dias e espera que o julgamento sirva para evitar outras tragédias no futuro.

“Espero que as responsabilidades de todos os dirigentes políticos, dos responsáveis pela segurança do Estado, sejam determinadas para que sejam tomadas medidas e que isso não volte a acontecer”, diz com o olhar fixo no chão.

E embora também queira “prisão perpétua” para Abdeslam, o único membro vivo dos comandos que atacaram Paris, reconhece que a sentença proferida pelo tribunal não vai reparar sua dor.

“Terei a dor até morrer e sentirei falta de Juan Alberto até morrer”, confessa a mãe, que todo 13 de novembro e quando viaja para a capital francesa coloca flores em frente ao Bataclan. Esta viagem não foi diferente.

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