Os juros futuros chegaram ao fim da sessão em alta até os vencimentos intermediários, enquanto os longos estavam de lado, num dia de volatilidade ditada pela reação dos mercados à vitória contundente de Donald Trump na eleição americana e às expectativas pelo pacote fiscal e pela decisão do Copom nesta noite. Com o resultado do pleito nos EUA sem dar margem para contestação, cresceu a aposta num pacote fiscal robusto que possa limitar os efeitos da eleição americana sobre o câmbio e, consequentemente, sobre a inflação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 12,97%, de 12,85% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 subiu de 12,97% para 13,04% e a do DI para janeiro de 2029 fechou estável em 12,99%.

Nas máximas pela manhã, as taxas chegaram a subir em torno de 20 pontos-base e nas mínimas, à tarde, a recuar 10 pontos-base. A amplitude do movimento mostra as incertezas tanto daqui quanto do exterior. Lá fora, uma delas, a de quem venceria a eleição, foi dissipada com a vitória maiúscula de Trump, que se elegeu tanto pelo voto popular quanto no colégio eleitoral, com os republicanos ainda levando o Senado e, provavelmente, a Câmara. “Isso dá a ele muito capital político para implantar sua agenda”, disse o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.

Embora Trump tenha hoje amenizado o discurso agressivo da campanha, há dúvidas sobre o que será de fato colocado em prática da sua pauta protecionista, que deve atingir principalmente México e China, esta a principal parceira comercial do Brasil. “Ele teve uma fala mais moderada, sugerindo que não vai esticar a corda. Mas não há como saber”, avaliou Rostagno.

Assim, pela manhã o mercado de juros digeria mal a eleição nos EUA, com taxas todas com avanço firme, mas houve melhora no fim do período, com os agentes amadurecendo a ideia de que o governo não terá outra alternativa a não ser caprichar nas medidas para proteger a economia brasileira do efeito Trump.

“A vitória de Trump colocará muita pressão sobre o Planalto para fazer cortes de gastos o mais rápido possível. A conta é simples: se Lula não estancar a piora da visão das contas públicas o dólar em alta irá destruir em 2024 as chances dele (ou o PT) ganhar em 2026”, avalia o economista André Perfeito.

Para o sócio da Oriz Partners, Carlos Kawall, é mais provável que o governo adote medidas “que lhe permitam a travessia 2025/2026” do que ações de caráter mais estrutural, como mudança nos parâmetros do Benefício de Prestação Continuada (BPC). “A ideia de ouvir todos os ministros me parece que reduz as chances de medidas mais estruturais, mas alguma coisa certamente vem”, afirmou o economista.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que as reuniões com os ministérios sobre a agenda de corte de gastos foram bem sucedidas e que todos os ministros estão conscientes da necessidade de reforçar o arcabouço fiscal.

O maior otimismo sobre o pacote ajudou a neutralizar, nas taxas longas domésticas e no câmbio, o impacto da escalada dos rendimentos dos Treasuries. A descida da cotação abaixo dos R$ 5,70 é ótima notícia para o Copom, que hoje decide sobre a Selic. As apostas estão consolidadas na alta de 0,50 ponto porcentual, para 11,25%, e, com isso, a maior expectativa é pelo comunicado, sobretudo eventual sinalização sobre os próximos passos.

Segundo Rostagno, a curva precificava nesta tarde 51 pontos-base de alta para a decisão desta noite, ou seja, 94% de probabilidade de aperto de 0,5 ponto e 6% de chance de 0,75 ponto. Para dezembro e janeiro, precificação de 59 e 71 pontos, respectivamente, indica avanço da aposta de 0,75 ponto. Por fim, a curva projeta Selic chegando a um nível entre 13,5% e 13,75% em julho de 2025.