Os mercados reagiram com euforia nesta segunda-feira (27) à contundente vitória do presidente Javier Milei nas eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, com a bolsa de Buenos Aires em alta e uma valorização do peso diante da possibilidade de um aprofundamento das reformas ultraliberais.

A vitória encerrou uma corrida cambial em curso há várias semanas e cuja contenção contou até mesmo com a participação do Tesouro dos Estados Unidos, que comprou pesos em apoio ao seu aliado Milei.

O governo do presidente ultraliberal obteve um forte apoio dos argentinos que o apoiaram com 40,7% dos votos, frente a um peronismo disperso que somou 31,7%.

Na Bolsa de Buenos Aires, alguns papéis superaram 30% de alta em relação à sexta-feira, em um clima de euforia financeira.

Em Nova York, as ações argentinas (ADR) registraram fortes avanços de até 50% ao meio-dia, em uma recuperação acentuada após dias de perdas.

Nos quadros das casas de câmbio de Buenos Aires, o dólar, principal refúgio de valor dos argentinos frente à inflação, despencava pouco após a abertura dos mercados, até 9% em relação à sexta-feira, dissipando assim os temores de uma desvalorização.

“Ontem começou uma nova Argentina”, resumiu Milei nesta segunda-feira no canal A24.

“O Congresso torpedeou constantemente o programa” do governo, afirmou, confiando que haverá uma mudança a partir da incorporação dos legisladores eleitos em 10 de dezembro.

A partir de então, o ultraliberal, que até agora tem demonstrado intransigência em sua forma de governar, deverá buscar acordos, pois, embora tenha crescido consideravelmente em número de cadeiras, seu partido continuará sem maioria própria.

– “Reformas” –

“Precisamos nos sentar com um novo Congresso e buscar os acordos para realizar as reformas, me comprometi com isso em 2023, votaram em mim para isso”, disse o presidente, que avalia mudanças em seu gabinete.

Milei ratificou o sistema de flutuação administrada da moeda sob faixas estabelecidas. “Enquanto estiver dentro da faixa, (o dólar) é livre”, disse.

O governo dos Estados Unidos comprometeu-se a facilitar a Milei uma ajuda de até 40 bilhões de dólares (R$ 215,2 bilhões, na cotação atual) que estava condicionada a uma vitória eleitoral de seu aliado.

Para o cientista político Iván Schuliaquer, da Universidade Nacional de San Martín, resta saber se o triunfo eleitoral “lhe dá um impulso para frente” e “se o modelo econômico se sustenta sem acabar afundando, que é o que teria acontecido se Trump não o resgatasse”.

“Mas política e culturalmente o projeto de Milei está muito vivo”, acrescentou o especialista à AFP.

O impulso para o governo do presidente argentino também foi transferido para o mercado de títulos, no qual a taxa de juros dos empréstimos a 10 anos da Argentina caiu consideravelmente nesta segunda-feira para 10,51%, frente a 14,34% na sexta-feira.

Esta redução representa uma queda de 3,83 pontos percentuais, uma variação especialmente importante no mercado da dívida soberana.