29/03/2006 - 7:00
Mariano nasceu pela manhã, no dia 2 de dezembro de 2005, em Ibiúna, no interior de São Paulo. Aguardado durante 25 anos com muita expectativa, recebeu atenção especial. Afinal, ele é um raro filhote da espécie Anodorhynchus hyacinthinus, popularmente conhecida como arara-azul, uma das 118 espécies em extinção no Brasil. O que o torna especial aos olhos dos criadores é que ele faz parte da terceira geração de araras-azuis nascidas em cativeiro e poderá ser vendido de forma legal. Mariano é o primeiro no País. ?Há uma fila quilométrica de pessoas querendo comprar esse animal?, diz Leandro Troiano, um dos donos da Amazon Zoo, loja que vende animais criados em cativeiro com autorização do Ibama. Preço: R$ 250 mil. Os clientes em busca dessa raridade são, geralmente, donos de viveiros domésticos. ?É um hobby que cresce 200% ao ano?, diz Troiano. Um hobby, diga-se de passagem, caro. E bota caro nisso.
Os viveiros, vistos como ?paraísos? particulares, custam de US$ 10 mil a US$ 2 milhões. Ali, em espaços que vão de 80 metros quadrados a 17 mil metros quadrados, é possível erguer uma fauna escolhida a dedo. ?Pode-se criar viveiros simples, apenas com aves, e outros complexos, com mamíferos como macacos?, diz Troiano. Mas, afinal, o que leva uma pessoa a construir um canto assim? ?A sensação de estar na natureza e poder interagir com os animais?, responde o empresário Michel Rossi, dono de um viveiro de 150 metros quadrados na sua residência no bairro paulistano do Morumbi. ?É como se eu levasse a floresta para dentro de casa?. Ele gostou tanto da idéia que pretende construir um outro, com 1 mil metros quadrados, em sua fazenda de Avaré, no interior de São Paulo. O investimento é alto. Mas, a julgar pela beleza dessas construções, ornadas com as mais belas aves do mundo, o resultado é único. Há, contudo, quem vá contra essa prática. ?É um incentivo à proliferação do comércio ilegal de animais silvestres?, diz Pedro Develey, biólogo da Sociedade para a Conservação de Aves do Brasil, a Save. ?O lugar dos pássaros é a natureza?.
Estima-se que o tráfico de animais movimente US$ 20 bilhões por ano ao redor do mundo, perdendo apenas para o tráfico de armas e de drogas, segundo estudos do Ministério do Meio Ambiente em parceria com o Ibama e a organização não governamental Renctas. Só no Brasil atinge US$ 1,5 bilhão ao ano. ?Sempre haverá donos de viveiros que comprarão aves vendidas no comércio negro?, diz Develey. Explica-se: o preço chega a ser dez vezes menor do que o praticado por quem atua dentro da lei. ?O ideal seria deixar os animais viverem livres?, diz Develey. ?Mas se isso não acontece, as pessoas devem, no mínimo, se informar no Ibama e comprar animais de criadores credenciados?. Com esses cuidados, e mediante muito dinheiro, é possível parafrasear a Canção do Exílio de Gonçalves Dias e dizer ?as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá?.