11/06/2017 - 15:09
A vizinhança da Praça Princesa Isabel, que vinha cobrando ações para solução da situação no local, elogiou a operação de dispersão realizada neste domingo, 11, pela Polícia Militar e pela Prefeitura, mas pôs a comemoração em espera diante do receio de que a área volte a ser ocupada em pouco tempo. A praça foi o ponto escolhido pelos usuários de drogas após a megaoperação do dia 21 de maio. Desde então, a circulação no local só cresceu, passando a contar com tendas e barracas onde o tráfico ocorria.
O comerciante Joaquim da Silva, de 68 anos, varria na manhã deste domingo a calçada do estacionamento que administra a poucos metros do que era a nova Cracolândia. Para ele, há necessidade de a polícia ficar de plantão na área. “Foram três semanas de prejuízo porque nem a placa de funcionamento eu tinha coragem de colocar do lado de fora”, disse. “Agora também tomara que haja uma solução porque não adianta ficar só expulsando eles de um canto para outro. As boas experiências de outros cantos têm de ser observadas e aplicadas aqui”, completou.
O funcionamento da Primeira Igreja Batista de São Paulo também vinha sendo afetado, segundo seus frequentadores. O zelador Samuel Cardoso, de 46 anos, disse ter notado uma diminuição na quantidade de fiéis presentes nas celebrações e muitos deles atribuíam a ausência à insegurança. “Em menos de um mês, acabaram com a praça. Esperamos que agora melhore e que as cabaninhas não retornem”, disse. “Para a gente, não falaram se após a limpeza haverá alguma liberação para eles retornarem. Esperamos que não”, reforçou Cardoso.
“Era uma situação terrível. Hoje é outra visão. Mas acho que esse problema da Cracolândia ainda está muito longe de ser resolvido. A insegurança continua no bairro”, disse o analista de tecnologia Elmar Bischoff, de 50 anos, que já decidiu se mudar com a família para Jundiaí por causa da violência na região. “Minha esposa não tem mais coragem de sair de casa com minha filha.”
“Foi uma maravilha, voltou a reinar a paz e devolveu a vida à praça. Vinha todo o dia aqui assear com minha cachorra e eles tinham acabado com tudo”, disse o vidraceiro João Alberto Lima, de 57 anos, vizinho da Praça Princesa Isabel há 36 anos.
No fim da manhã, alguns frequentadores da área já retornavam. Um deles que preferiu se identificar apenas como Bastos, de 60 anos, reclamou das estruturas de apoio. “A rapaziada não tem para onde ir. Há a concentração na Helvetia agora e quero ver para onde vão levá-los”, disse sentando em um banco da praça, do lado mais próximo ao terminal de ônibus.
No canteiro central da Avenida Rio Branco, outro frequentador assistia à operação de limpeza pelos funcionários da Prefeitura. Ele aguardava o término para ver se conseguiria recuperar uma carroça, abandonada às pressas após ter escutado o início da intervenção policial. “Só deu tempo de pegar o cobertor e um pedaço de rapadura”, disse, se recordando depois que a cadeira de metal acolchoada em que estava sentado também entrou na lista de pertences salvos. Questionado se procuraria atendimento nas estruturas municipais, respondeu negativamente: “Lá, tem que acordar às 6 horas da manhã e querem tratar a gente, dar remédio, pensam que somos loucos.”