22/07/2022 - 16:52
A presença diária de curiosos que querem filmar ou fotografar uma mulher em uma casa abandonada de Higienópolis, na região central de São Paulo, obriga prédios vizinhos a reforçar as medidas de segurança. Depois que visitantes escalaram os muros em busca de imagens da moradora, um endereço chegou a contratar seguranças privados; outros pedem mais atenção aos vigias. Moradores da região relatam um clima hostil e de insegurança.
A moradora em questão é Margarida Bonetti, de 63 anos, herdeira de uma família rica e tradicional de São Paulo que, segundo o podcast do jornal Folha de S.Paulo, foi acusada de manter uma empregada doméstica em trabalho análogo à escravidão por 20 anos, quando morava nos Estados Unidos. Margarida não chegou a ser presa e voltou ao Brasil à época do julgamento, há mais de 20 anos, também conforme a apuração da Folha.
Na tentativa de buscar imagens de Margarida, visitantes tentam escalar muros dos prédios próximos para um ângulo menor. Um dos alvos é o edifício Louveira, marco arquitetônico da cidade. Projetado em 1946 pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas em parceria com Carlos Cascaldi, o edifício possui um jardim que se integra com a rua. Para fotografar a casa abandonada, que é vizinha, visitantes já escalaram os muros baixos e até entraram no jardim do local histórico e que recebe constantemente estudantes de arquitetura. Funcionários pediram para os curiosos deixarem o espaço e já tiveram de agir para retirá-los.
O Estadão apurou que, depois desses episódios, o edifício contratou seguranças particulares para evitar maiores transtornos. O Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) da região de Higienópolis, Consolação e Pacaembu informa que não foram registrados boletins de ocorrência.
Houve tentativas de invasão em outros prédios da região. Síndicos e zeladores recomendam que os funcionários redobrem os cuidados com a segurança. Pedidos para tirar fotos de dentro de outros empreendimentos acontecem frequentemente de acordo com vizinhos da Rua Piauí. Eles também reclamam do barulho constante – os visitantes se concentram no local dia e noite – e relatam um “clima de hostilidade” com a moradora do casarão. Os muros foram pichados com a palavra escravocrata em referência ao crime que ela teria sido cometido por Margarida nos EUA.
“Tenho medo de entrar e sair de casa porque a gente percebe um clima de hostilidade, com muitos xingamentos. É uma execução pública que pode ter outras consequências até para a vizinhança”, diz um morador da região há cinco anos.
O endereço chegou a ser alvo do cumprimento de um mandado de busca e apreensão pela Polícia Civil na quarta-feira, 20, por possível abandono de incapaz. A investigação da polícia começou depois que vizinhos alertaram diversas delegacias de que uma pessoa com indícios de problemas de saúde mental precisava de ajuda naquela residência. Representantes de uma ONG de proteção animal, incluindo a ativista Luísa Mell, resgataram dois cães na casa no início de junho.
Os policiais descreveram um cheiro insuportável, mas não encontraram irregularidades em outros cômodos. Havia relatos de que a moradora mantinha gatos de estimação em condições insalubres e de desvio de energia elétrica de prédios vizinhos, instalações conhecidas como “gatos”. Nenhuma dessas denúncias foi confirmada. Margarida Bonetti passou por avaliação médica, mas o resultado do laudo ainda não foi divulgado. Ela afirmou à polícia que não quer deixar o local.